As derrotas em série sofridas pelo governo Lula na última semana, que vão desde a derrubada das “saidinhas” de presos até manutenção de veto de Bolsonaro à proibição de “fake news” durante as eleições, parecem ter sido o “chacoalhão” que faltava no Palácio do Planalto. Nos bastidores, fala-se que o recado do Congresso foi enfim entendido.

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O governo seguirá tendo sucesso na agenda econômica, mas terá dificuldades nas pautas de costumes que apontem para uma agenda mais progressista – e colecionará traições na própria base, já que parlamentares que estão em partidos da base de apoio do governo têm em seu eleitorado fatias importantes do eleitorado conservador. Entre o governo e o próprio eleitor, o parlamentar não tem dúvidas de quem trai primeiro. Especialmente em ano de eleições municipais, quando muitos deles terão os nomes nas urnas.

Em Santa Catarina, por exemplo, os parlamentares do MDB e do PSD – partidos que integram a base do governo – votaram em peso pela derrubada do veto de Lula no projeto das saidinhas de presos. Os únicos votos a favor do governo, na bancada catarinense, foram dos deputados do próprio PT.

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Nos corredores de Brasília, já uma leitura de que o governo passou o primeiro ano sob a ilusão de que conseguiria dobrar o Congresso com a conhecida habilidade política de Lula, como fez nos governos Lula 1 e Lula 2.

Ocorre que há um abismo entre o Congresso com que o presidente Lula lidou nos dois primeiros mandatos, entre 2002 e 2010, e o que ocupa a Câmara e o Senado atualmente. Em parte, porque a agenda conservadora avançou, o número de representantes aumentou na mesma proporção, e o bolsonarismo deixou saudosas viúvas. Mas também porque o Legislativo passou a ter maior controle do orçamento do que tinha no início dos anos 2000. E o poder de barganha do governo foi para o vinagre.

Lula precisa encontrar novas maneiras de negociar com o Congresso. Em relação à agenda progressista, no entanto, só com um milagre.