Minha turma de terceirão foi das primeiras a serem submetidas ao Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, em 1998. Na época a prova se limitava à sigla, avaliava escolas públicas e privadas brasileiras. Anos depois, se tornaria o principal acesso às universidades públicas no país e passaria a servir como critério para concessão de bolsas e financiamento estudantil nas universidades privadas.
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Foi uma revolução. No meu tempo, fazíamos um vestibular para cada universidade onde pretendíamos tentar uma vaga. Só quem tivesse muito dinheiro poderia cruzar o país prestando vestibular em todas as universidades possíveis. Para a maioria de nós, isso era impensável. Com o Enem, os estudantes passaram a ter uma nota única para concorrer em qualquer lugar. E os alunos das escolas públicas não pagavam mais pela inscrição, o que abriu as portas para milhares de estudantes que, até então, não tinham sequer o direito de sonhar.
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O Enem ampliou o acesso à universidade no Brasil. Reconhecido como um exame de excelência, passou a ser aceito também no exterior. Universidades em Portugal, França, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, entre outros países, passaram a utilizar o Enem como critério para aceitar estudantes brasileiros. Um atalho para o mundo.
São avanços como esses que estão ameaçados pela cruzada ideológica na Educação promovida pelo governo Bolsonaro. Foram cinco trocas de comando no Inep em três anos, erros na correção da prova em 2019, desorganização, censura (!), e a suspeita gravíssima de que pessoas de fora do Inep tiveram acesso às provas que serão aplicadas – o que levou ao pedido de demissão coletiva dos servidores.
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Tudo para que o Enem tenha, como afirmou o presidente Jair Bolsonaro, “a cara do governo”.
Um exame nacional não tem que ter cara de governo algum. Não em um país sério. As denúncias de interferência no Enem pelo governo Bolsonaro são gravíssimas e precisam ser investigadas a sério, porque têm potencial para implodir a confiança conquistada pelo exame ao longo dos anos, dentro e fora do país. E, com ela, minar o sonho de milhares de estudantes de ingressar no ensino superior.
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Os sintomas já começam a aparecer. Neste domingo, teremos o menor número de jovens prestando a prova nos últimos 16 anos. Em SC, são 20 mil inscritos a menos do que em 2020.
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É inevitável lembrar que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou recentemente que universidade não é para todos. Ao que parece, o desmonte do exame que democratizou as universidades no Brasil não é acaso, é projeto.
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