A flexibilização do uso de armas de grosso calibre pelo governo federal abriu brechas legais para que Guardas Municipais comecem a utilizar fuzis no Brasil – o que não é visto com bons olhos por uma boa parte dos especialistas em segurança pública. A discussão começou a aquecer ao longo dos últimos meses com a aquisição de armas pela GM em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul. Agora, chegou a Santa Catarina por meio da doação de fuzis à GM de Balneário Camboriú.
Continua depois da publicidade
Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp
O assunto envolve discussões sobre o preparo dos agentes e a real necessidade de guardas municipais portarem armas com grande poder de fogo, usadas por forças militares em ações de guerra. Mas não só: esbarra na função constitucional das guardas civis, que foram criadas originalmente para a proteção do patrimônio público e relação comunitária, e não para o combate.
Os fuzis de Balneário Camboriú são calibre 556 modelo T4, semiautomáticos – o mesmo modelo adquirido por GMs em outros estados. O armamento foi doado pelo Balneário Shopping, do Grupo Almeida Junior, em uma ação intermediada pelo Conselho Comunitário de Segurança Pública e Cidadania (Conseg). Foi o Conseg que escolheu dividir as armas entregues pelo shopping entre a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Guarda Municipal. Segundo o presidente do Conseg, Valdir de Andrade, a decisão levou em conta a flexibilização do uso do armamento e a compra de fuzis por outras guardas municipais no país.
Surfistas se deparam com tubarão em Balneário Camboriú
Continua depois da publicidade
Por que o alargamento da praia em Balneário Camboriú atraiu tubarões
Em agosto, o comandante da 3ª Região da PM, coronel Jofrey Santos da Silva, denunciou o fato ao Ministério Público. Alegou que, para portar fuzis, os guardas municipais precisam de autorização especial do Exército Brasileiro. De fato, a liberação das armas para a GM ainda depende do aval das Forças Armadas, que está em andamento – por isso, PM e Polícia Civil já receberam as armas doadas, mas a GM ainda não. À coluna, o coronel disse que não discute o direito da GM utilizar os fuzis, mas o cumprimento das exigências legais.
– Que primeiro preencham os requisitos, se capacitem. Qualquer instituição que monitora a legalidade precisa cumprir os requisitos legais – afirmou
Prédio mais alto da América do Sul tem Neymar, Luan Santana e números recordes em Balneário Camboriú
Prédio balança em Balneário Camboriú com vento e causa “ondas” em triplex de R$ 17 milhões
O comandante da Guarda Municipal de Balneário Camboriú, Douglas Ferraz, diz que as exigências estão sendo cumpridas e a liberação do armamento deve ocorrer nos próximos dias. Segundo ele, o uso dos fuzis será reservado a ações especiais. Para Ferraz, os fuzis têm caráter preventivo – ele afirmou que a decisão de incorporá-los à GM veio após a ação do “novo cangaço” em Criciúma, em abril deste ano.
Continua depois da publicidade
– Onde tem polícia bem aparelhada, as ações criminosas não são estimuladas – disse.
Uso é restrito mesmo na PM
Na própria Polícia Militar, o uso de fuzis é restrito. Até pouco tempo atrás, somente os grupos táticos podiam se especializar nesse tipo de armamento. A regra mudou recentemente e policiais que atuam na rádio patrulha, por exemplo, já podem fazer curso para portar fuzil. Mesmo assim, o uso desse tipo de arma é reservado para operações especiais na PMSC, e não para o policiamento regular.
Moisés avalia ir à Conferência do Clima em Glasgow em comitiva de governadores
Especialistas ouvidos pela coluna, dentro e fora das polícias, indicam que há uma relação inversamente proporcional entre poder de fogo e sensação de segurança. Agentes fortemente armados em locais de grande circulação de pessoas, por exemplo, aumentam a percepção de que o local é inseguro. Por isso as PMs não usam fuzis no policiamento cotidiano no Estado.
Além disso, há controvérsias que envolvem a necessidade de incorporar uma arma de tamanho poder letal às forças de segurança.
– Não se usa fuzis para a segurança pública, se usa apenas para guerras, quando o objetivo é eliminar pessoas. Se há criminosos com fuzis, que a polícia investigue, prenda estes criminosos e acabe com o comércio ilegal de fuzis – avalia o advogado Felippe Angeli, gerente de advocacy do Instituto Sou da Paz.
Continua depois da publicidade
Dario Berger apresenta relatório final do Sistema Nacional de Educação no Senado
Função constitucional da GM
O assunto é especialmente delicado quando se trata de uma guarda que tem como função constitucional primária a proteção do patrimônio público, e não o combate direto à criminalidade. A partir desse ponto de vista, o uso dos fuzis seria não apenas desnecessário, mas uma afronta à prerrogativa constitucional das guadras municipais.
Em setembro, a Defensoria Pública de São Paulo entrou na Justiça para suspender a compra de fuzis pela Guarda Municipal da capital paulista, alegando ação “absolutamente inconstitucional, ilegal e abusiva”. A Defensoria alegou que a prefeitura de São Paulo está atribuindo à GM “a função de atuar como se polícia ostensiva e investigativa fosse, o que o faz com claro desvio de finalidade”.
Participe do meu canal do Telegram e receba tudo o que sai aqui no blog. É só procurar por Dagmara Spautz – NSC Total ou acessar o link: https://t.me/dagmaraspautz
Leia também
Teve reação à vacina da Covid-19? Saiba o que fazer
Entenda o conflito no Afeganistão com volta do Talibã ao poder em 10 perguntas e respostas
Variante Delta: veja a eficácia de cada uma das vacinas da Covid
Conheça os 16 animais mais estranhos e raros vistos em SC
As diferenças entre as vacinas da Pfizer, Astrazeneca e Coronavac