O programa Investigadores da História, apresentado no último domingo (1º) pelo canal History Channel, surpreendeu os filhos do primeiro prefeito de Balneário Camboriú, Higino Pio, ao mostrar imagens até então inéditas do corpo do pai, morto pela ditadura militar em 1969, às quais eles não tiveram acesso. As fotos foram usadas pela Comissão Nacional da Verdade e ajudaram a comprovar a farsa que foi montada, na época, para sustentar a versão oficial de suicídio. A morte de Higino Pio completou 59 anos na terça-feira (3).

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– A gente já sabia do que tinha acontecido, mas não tínhamos visto ainda aquelas fotos. Ficamos abatidos por pensar no sofrimento que ele teve – diz o empresário Julio Cesar Pio, filho de Higino.

O crime, comprovado em 2014 pela Comissão, mereceu uma nova investigação pelos peritos criminais no programa, que lança novo olhar sobre o período mais obscuro da história recente do Brasil. As imagens mostraram que Higino Pio já estava morto quando a cena de suicídio foi forjada. E um teste, feito no Laboratório de Mecânica da Universidade de Brasília (UnB), comprovou que o arame usado na cena montada não suportaria o peso de Higino Pio.

Mais uma vez, a versão do suicídio caiu por terra.

Memória honrada

O filho de Higino Pio sentiu que a memória do pai foi honrada com a comprovação, mais uma vez, de que o pai foi assassinado. Mas lamenta que o processo instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF), que apontou seis responsáveis pela morte, não tenha sido levado adiante pela Justiça.

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– Tem pessoas dizendo que ele deveria mesmo ter sido morto. Pessoas que eu conheço – diz Julio.

Pergunto se ele acha que isso é resultado da polarização do país.

– Tenho certeza. Querem partir para os militares, o povo entregou nas mãos deles de volta. É difícil, a gente já passou por isso e não quer que ninguém passe por isso de novo.

"Que nunca mais se repita"

O aniversário de morte de Higino Pio será lembrado pela organização da 2ª Caminhada Vozes do Silêncio, que ocorrerá no dia 29 de março no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Um dia antes, o ato unificado Ditadura Nunca Mais ocorrerá junto ao prédio onde funcionou a sede do Doi-Codi na capital paulista.

Um texto em memória a Higino Pio, publicado pelo movimento, foi redigido pela procuradora regional da República Eugênia Augusta Gonzaga, mestre em Direito Constitucional e coautora das primeiras iniciativas de responsabilização de agentes da ditadura. Ela abre a homenagem com um alerta: “Para que não se esqueça, para que nunca mais se repita”.

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