Dois dias depois de ter desistido oficialmente da nomeação para a Casa Civil, o advogado Filipe Mello, filho “zero-dois” do governador Jorginho Mello (PL), recebeu a coluna para uma entrevista exclusiva em seu escritório, no Centro da Capital, na última quinta-feira (11). Em uma hora e meia de conversa, falou sobre a polêmica recente envolvendo sua indicação para o cargo, e como encontrou na política uma maneira de ficar mais próximo do pai, ainda criança.

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A relação que Filipe tem com o pai é quase uma devoção. E fica clara na maneira como ele fala de Jorginho. O “político da família”, como diz o filho, é a prioridade nas escolhas dos Mello.

Filipe comenta sobre as expectativas para o governo Jorginho e para o PL, diz que defende uma mudança de planos no partido para as eleições municipais na Capital e fala sobre as próprias pretensões políticas.

Conhecido como os “olhos e ouvidos” do governador, Filipe Mello revela informações sobre os bastidores do poder e sobre o real peso de sua influência sobre o governo: “As pessoas dizem que o Filipe tem muita influência no governo. Eu discordo”.

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Em que momento você decidiu que não era a hora de entrar no governo?

Acima de tudo, um entendimento de que do outro lado da mesa está o pai. Além do governador Jorginho existe, no meu caso especificamente, o pai Jorginho. É um processo que já estava se consolidando. Foi uma avaliação muito pessoal. O Estado está bem, a avaliação do governo está boa, a avaliação do governador está muito boa, 74% da população está aprovando.  Ou seja, ele tem no final do primeiro ano de governo uma aprovação maior do que a que teve na eleição. As pessoas passaram a conhecer um pouco mais o Jorginho Mello, a forma dele de fazer política, o jeito de ser. Segundo, porque o governo fez entregas importantes. É uma mudança cultural dentro do governo de Santa Catarina, um governador presente. Aconteceram as cheias no Vale e no Oeste, e não teve cidade afetada que ele não visitou. Ele dizia com frequência, o que que o governador pode fazer? Atuar com todas as provisões possíveis, com a Defesa Civil, com auxílio financeiro, Bombeiros, segurança pública, Celesc.  Aí chegava um ponto em que ele dizia, ok, tudo que está ao alcance do governador está feito, o que que eu posso fazer mais? Aí entrou o Jorginho. Teve uma foto que circulou dele carregando uma cesta básica num dos caminhões da defesa civil que foi, no bom sentido, um paparazzi que fez. Não foi feito pela equipe da comunicação para depois divulgar em rede social. É ele. Ele ajudou a limpar alguns comércios, ajudou de verdade. Para o Governo do Estado, 2024 vi ser um ano de muitas entregas, né? Eu tenho muito claro, vivendo ao lado dele como filho, o que vai acontecer na saúde, na educação, na infraestrutura, na segurança pública.  

Mas o que fez virar a chave? 

Se criou uma polêmica infrutífera. Por um lado, me fez bem ver e ouvir de todo mundo, inclusive de quem critica, que a minha qualificação técnica, que o meu currículo, minha história, me permitem ocupar uma função pública. Ou seja, não é o governador arrumando um emprego. Este contexto é importante. Tem uma frase que meu pai sempre fala: Nós podemos errar na forma, mas não podemos errar na intenção. Com base nessa frase é que sentamos e reavaliamos, será que vale a pena? Esse processo não nasceu internamente no governo, não foi o Filipe ou o governador Jorginho que começaram a se movimentar para o Filipe ser secretário de Estado da Casa Civil. Começou dentro da Assembleia Legislativa, passou por setores importantes do Judiciário, do Tribunal de Contas, do Ministério Público. Um movimento externo que foi crescendo, se avolumando, e que desaguou nesse processo de minirreforma administrativa, até porque alguns secretários têm o desejo de serem candidatos a prefeito nas suas cidades. Quem conhece a história do Filipe, do pai do Filipe, do irmão do Filipe, viu e enxergou isso com muita naturalidade. Quem é o Filipe? Um advogado que vai fazer 43 anos de idade agora, no dia 25 de janeiro, que advoga há 21 anos, que se especializou em Direito Público e nesse período teve a oportunidade de ocupar algumas funções públicas, começando lá em 2005, como Secretário de Administração do primeiro mandato do Dario (Berger, na prefeitura de Florianópolis). 

As pessoas dizem que o Filipe tem muita influência no governo. Eu discordo

Qual é a influência do Filipe no governo? 

As pessoas dizem que o Filipe tem muita influência no governo. Eu discordo disso e vou explicar. (Minha influência) é zero no governo, a minha influência é a relação que eu tenho com o pai, é uma relação pessoal. Meu pai tem dois filhos, o Bruno, parceirão, dentista, doutor em implantodontia. Um cara bem resolvido. Ele (Jorginho) sempre fala, ainda bem que meus filhos não precisam de política para sobreviver. E é verdade. De forma muito humilde eu falo isso. Então, isso nos permite, tanto ao Filipe como ao Bruno, dar opiniões sinceras, sem nenhum tipo de interesse. A relação pai e filho é uma relação 100%, não é 99%. Porque essa relação de confiança é real, ela nunca foi traída. Eu sou o filho que lá em 1994, quando o ex-diretor do BESC decidiu ser candidato a deputado estadual pela primeira vez, toda sexta-feira entrava no carro com ele e viajava para o Meio Oeste, principalmente a região de Joaçaba, que foi a primeira base eleitoral dele. Eram 450, 500 km para fazer uma reunião com 10 pessoas. Eu sempre vivi isso, o Bruno também, mas eu acabei tendo uma convivência mais intensa pela forma de ser, pelo jeito, depois pela profissão que eu escolhi, a advocacia. Eu convivo com a política desde o primeiro dia de mandato do deputado estadual Jorginho Mello, no ano de 1995. 

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E qual o teu papel na articulação política? 

É o papel de um filho que procura ajudar o pai a dinamizar sua atividade política, a potencializar sua atividade política, a se comunicar melhor com as pessoas, com a revolução das redes sociais, que nos Estados Unidos começou com Obama, o uso das redes sociais na política, e o ex-presidente Bolsonaro inaugurou no Brasil. Então o meu papel é um papel de apoio ao pai, a um CPF, à pessoa física do Jorginho. 

E como é que isso se dá? Vocês costumam fazer reuniões? 

De todas as formas. 

Você almoça com seu pai toda semana, por exemplo? 

Não, nós não nos encontramos todos os dias. Ele tem o governo para administrar e eu tenho minha atividade profissional também em Brasília, no STJ e no STF, viajo com frequência. Diariamente falo com ele por telefone, me comunico com ele por mensagens de texto de WhatsApp. Me encontro com ele, evidentemente, com muita frequência. Mas não no dia a dia. Eu não tenho um dia a dia no governo, como nunca tive na Assembleia, nunca tive na Câmara dos Deputados quando ele foi deputado federal, porque eu tenho a minha vida, eu tenho meus clientes, eu tenho os meus compromissos pessoais, aquilo que me sustenta. E o mesmo faz o Bruno. Avaliando esse cenário todo é que nós sentamos e conversamos, se tem uma coisa que Santa Catarina não precisa agora é de polêmica. Se estabeleceu um cabo de guerra com a esquerda, é fato. Mas se você perguntar se mudamos de ideia por conta da decisão judicial lá do juiz substituto de segundo grau, não tem a ver. Tanto que a decisão foi tomada depois, quando o Tribunal de Justiça restabeleceu a verdade. E qual é a verdade? É a legalidade. Às vezes a gente pode errar na forma, mas não podemos errar na intenção. Foi a avaliação que nós fizemos juntos. O lema do meu pai e mãe sempre foi trabalho, Deus e família. Eu e o Bruno, quando nós éramos pequenos, um dia perguntamos para o meu pai por que Deus vem depois do trabalho e não acima de todas as coisas. Aí ele dizia, ajuda Deus um pouquinho a te ajudar. Nós somos pessoas com uma ideologia de direita, e temos muito orgulho disso. Quando a gente fala em defesa da família, não é “Jorginho está defendendo a família, é o pai arrumando um empreguinho para o filho”. Eu não preciso de emprego. Foi isso que eu coloquei naquele texto, de forma humilde. Eu sei que pode até não soar humilde isso, mas a intenção foi essa. Se tem uma coisa que a gente luta é para acabar com a hipocrisia. A esquerda nunca construiu nada de importante para Santa Catarina. Não existe esquerda no Brasil mais rejeitada que a catarinense. Então, decisão judicial se respeita e se cumpre. Mas eu nunca fui nomeado secretário.  O governador anunciou a intenção de colocar o Felipe. Esse foi o anúncio. Por isso que eu que eu tenho usado essa frase, que a gente fala muito na nossa família. Você pode errar na forma, não pode errar a intenção. 

Houve erro de forma ou de intenção? 

Não teve erro. Existe um contexto profissional, histórico, político. Eu quero que alguém da esquerda apresente seus filhos. O que eles fazem? Quais as qualidades e os defeitos dele? Eu fiquei muito feliz porque meu currículo foi esquadrinhado pela Justiça. Olha o que o desembargador Diogo (Pítsica) escreveu a meu respeito. Olha o que o desembargador Gilberto escreveu a meu respeito. É motivo de orgulho. Ninguém criticou a capacidade técnica do Filipe. O problema é biológico, por isso que eu escrevi naquele texto. O defeito é biológico, e está tudo certo. Eu não preciso estar dentro do governo para ajudar o pai. Existia, e existe ainda, um entendimento de vários setores da nossa sociedade de que eu poderia contribuir mais do que eu contribuo hoje. Mas o que eu não quero permitir é uma polêmica infrutífera. Eu escrevi aquele texto, foi 100% meu. Queriam me ajudar e eu disse não, é comigo tanto para acertar quanto para errar. Minhas qualificações técnicas foram reconhecidas e só por isso já valeu tudo, já valeu o processo que eu passei da semana passada para essa. 

Ninguém criticou a capacidade técnica do Filipe. O problema é biológico

Vamos falar da Assembleia. Ocorreu um movimento de deputados a favor do teu nome. Como fica essa relação com o governo agora, diante do recuo? 

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Essas forças políticas, às quais você se refere, desejavam que eu fosse para a Casa Civil. E de inúmeros partidos, inclusive de membros da esquerda. Ao passo em que eu não vou ocupar a Casa Civil, precisa de uma reorganização. Eu não tenho tempo pessoal para me dedicar ao governo neste momento, porque eu tenho a minha profissão. Eu preciso trabalhar. Por outro lado, eu tenho o pai que é governador. No que eu puder contribuir, eu vou continuar contribuindo. 

Que contribuição é essa?

Eu converso com muita gente, me relaciono com todo mundo e procuro não ter adversários, não ter inimigos. Eu já acertei, já errei na vida. Eu ocupei meu primeiro cargo público com 21 anos de idade. Quando eu fui secretário da Administração do município de Florianópolis fui eu quem fez a interlocução com o movimento Passe Livre. Mas por que escolheram você, Filipe, que é um cara de direita desde sempre? Porque dialogar e conversar não mata ninguém, muito pelo contrário, é necessário. Existe uma certa lenda de que o Filipe tem influência no governo do pai. O Filipe não tem influência no governo.  

E sobre o governador? 

Não, sobre o governador o Filipe opina. Como vivi algumas experiências, elas somam de alguma forma. É muito comum nós conversarmos sobre determinados assuntos e aí cada um dá sua opinião. Às vezes a minha opinião está certa e às vezes está errada, e está tudo certo. Assim se erra menos. Veja o último governador (Carlos Moisés), que se encastelou na Casa da Agronômica. Foi um desastre. O governo dele foi tão mal que nem para o segundo turno ele foi, virou pó. É diferente com o Jorginho Mello. O Jorginho é um cara humilde do interior que vendia leite quando tinha 11 anos de idade. Minha avó colocava garrafas de leite na cela de uma égua que eles tinham, lá em Herval D´Oeste, e vendia pé-de-granfino, que é um pé de moleque mais açucarado. Ele fez concurso para o BESC, virou escriturário, gerente, diretor, e em 1994 foi candidato a deputado estadual pela primeira vez. Um colega de imprensa teu apelidou o candidato Jorginho Mello de Sozinho Mello. Ele estava certo. Jorginho não fez amarras políticas com ninguém.  

Mas também dizem que o governador é desconfiado, que é difícil ter um núcleo de confiança. 

Não é verdade, ele dá carta branca. Ele confia nas pessoas. 

E para escolher um secretário? 

É uma decisão muito importante. (Ser governador) é o sonho da vida dele. Meu pai renunciou à vida pessoal. Quando eu e o Bruno éramos crianças, nós tentávamos arrancar dele a promessa de ficar um final de semana por mês em casa conosco, pra fazer um churrasquinho, falar bobagem, ir ver o Figueirense, sei lá, inventar qualquer coisa. Ele nunca prometia, porque dizia – não vou prometer o que eu não posso cumprir. Era comum ter meses em que todos os finais de semana ele estava na estrada, viajando, fazendo política. 

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Foi por isso que você começou a viajar com ele? 

O Filipe estava junto. Além de tudo, era uma forma do filho conviver com o pai. Se você perguntar se em algum momento da história política do meu pai eu não estive presente, a resposta é não. Eu estive presente em todos os momentos, nos alegres e nos tristes. Eu e o Bruno participamos da coordenação de todas as campanhas dele. 

Por vontade de vocês, ou a pedido do Jorginho? 

Por vontade própria. Ele não precisa pedir. Sabe quando a relação familiar está estabelecida num nível em que, quando você olha para a pessoa, você entende que a pessoa está pensando e está dizendo? Talvez essa esse seja o enigma que o pessoal brinca, que o Filipe e o governador Jorginho não precisam conversar. Eles pensam a mesma coisa praticamente. No final das contas, a decisão é do político, é claro, não é decisão minha. Ele é o governador, o governo é dele, o sonho é dele. O ônus e o bônus em primeiro lugar é dele. Isto está muito claro.  Você pode investigar isso no governo, não existe interferência do Filipe e do Bruno. Existem opiniões para o pai. 

Filipe e o governador Jorginho não precisam conversar. Eles pensam a mesma coisa
Vídeo: Lucas Amorelli

Na formação do primeiro secretariado teve uma participação grande sua. Você entrevistou os candidatos. Foi ele quem te pediu isso? 

Foi ao natural. Vamos lá. Quem que escolheu o secretário da Fazenda, o secretário Cleverson? O governador Jorginho. Quem sugeriu a ele? O Filipe Mello. Eu trabalhei com o Cleverson lá atrás, conheço o homem sério, competente, que ele é. Entendeu?  

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Que tipo de pergunta tinha nessa sabatina?  

Era uma conversa ao natural. Valores pessoais, princípios, o que pensa sobre o Estado, quais os projetos, quais os compromissos com a sociedade, quais as entregas. O que que está certo, o que que está errado, o que que tem que mudar, o que que tem que manter. Uma conversa normal, republicana, a muitas mãos e a muitas bocas. Não era uma conversa com o Filipe, eram conversas com um grupo de pessoas lideradas pelo governador. O governo foi montado pelo governador Jorginho Mello com pessoas que ele confia e acredita no resultado. Chegou ao final desse primeiro ano e fez ajustes que só conseguiu fazer porque não tem rabo preso, diferente de outros governadores que passaram por Santa Catarina.

Ficou uma relação balançada com a esquerda depois dessa crise? 

A relação com a esquerda sempre foi balançada. Nós pensamos de forma muito diferente, é água e vinho.

Mas há uma relação republicana. 

O Jorginho governa de uma maneira conciliadora. Mas não se preocupando com a esquerda, sem compromisso com a esquerda. A esquerda não soma a nada, não apresenta um compromisso sério para o Estado. É uma conversa fiada, conversa mole, sabe? É o dito pelo não dito.  

Mas temos um governo federal de esquerda, como é que fica essa relação? 

O governador Jorginho vem mantendo uma relação institucional. Ele é o governador de Santa Catarina e o presidente da República é Lula, é uma relação institucional. Eles têm relação pessoal? Nenhuma. O governador Jorginho Mello esteve teve algum dia com o presidente Lula no último ano? Nunca. Por outro lado, o presidente Lula veio a Santa Catarina no pior momento da história recente do Estado, nas cheias? Também não veio. Então é uma relação CNPJ, não CPF. 

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Quem são os secretários hoje mais próximos do governador? Quem forma o núcleo duro do governo? 

Todos eles. 

Ah não, tem alguns que são mais próximos. 

Existem aqueles que estão mais no dia a dia do governador pela natureza da atividade. Eu não estou no dia a dia do governador, mas quem eu vejo com muita frequência com ele é o secretário da Fazenda, o secretário da Educação, a secretária da Saúde e o secretário de Infraestrutura. Eu aprendi, nas funções públicas em que eu passei, que existem secretários que ajudam o governador a governar o Estado e existem aqueles que ajudam o governador a governar o governo. Casa civil, por exemplo, ajuda a governar o governo. Administração ajuda a governar o governo. Saúde ajuda o Estado, assim como Infraestrutura, Educação, Portos e Aeroportos. Então existem alguns secretários que, pela natureza da sua função, estão mais no dia a dia dele. Mas o governador Jorginho Mello tem uma característica pessoal, quem decide é ele. Ele decide, ele não empurra com a barriga. Eu já trabalhei com políticos que não decidiam e esperavam o tempo resolver os problemas. O governador Jorginho Mello não é assim. Quem lidera, como é o caso dele, tem que ter compromisso com a decisão, não pode não decidir. A gente aprendeu isso em casa, a vida ensinou isso para todos nós, dentro da minha família. Então o Filipe, por um contexto político, profissional, passou a ser desejado por um movimento político-social aqui no estado porque enxergavam algumas características positivas. Eu estava fazendo uma mudança de vida bastante significativa dentro da minha atividade profissional. Minha equipe, tanto aqui quanto em Brasília, estava torcendo muito que eu decidisse o contrário. Alguns clientes importantes que eu tenho estavam entristecidos. Por isso que eu coloquei no meu texto de forma humilde, estou repetindo isso. Eu não preciso de emprego, isso precisa ser dito. 

Foi isso o que mais te incomodou nessa polêmica, essa acusação? 

Não, eu não me incomodei com isso. O que me incomodou é o entendimento de que, poxa, o governo está tão bem. O que é que muda na tua vida, Filipe? Sobre a relação com o teu pai? Nada. Absolutamente nada. Então eu disse, olha, se tem alguém aí fora que está achando que o Jorginho está arrumando um emprego para o filho, como se o filho precisasse de emprego, está equivocado. Eu só quero dizer isso para essas pessoas. Vai lá na minha rede social ver o que tem de 10 anos atrás, o que que eu defendia em relação a Deus, pátria, família, 10 anos atrás. O Filipe virou um cara de direita só porque teve um movimento de direita no Brasil? Não. Eu respeito todo mundo, já advoguei para vários partidos de esquerda, para políticos de esquerda. Sou um advogado profissional, mas tenho os meus valores. Então, quando eu falo isso, não estou falando da boca para fora, como um jargão, até porque não me interessa isso. Eu não sou candidato, não serei candidato.  

Não está nos seus planos? 

Não está nos meus planos. Você vai dizer, mas e daqui a 20 anos, você pode ser candidato? Posso ser, sabe, não vou fechar a porta para isso. Mas essa pergunta eu escutei nos últimos 20 anos também. 

Mas nem a médio e longo prazo? 

Quando meu pai deixou de ser deputado estadual e foi candidato a deputado federal, eu ouvia – então o Jorginho vai a federal e você vai a estadual? Não, não vou. Quando ele deixou de ser deputado federal e foi pro Senado, diziam – então agora você vai a federal, Filipe? Não. Na eleição para governador, diziam – o Jorginho vai a governador e o Filipe vai a deputado estadual. Também não fui. 

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Por que? 

Porque meu projeto de vida é profissional, eu tenho uma advocacia real, uma advocacia sólida. Eu gosto da advocacia. Eu escolhi o que eu queria fazer. Foi uma opção emocional, uma opção real. O político da minha família é o meu pai.  

Mas você gosta da política.

Ah, claro. Eu vivo a política diariamente. Aí você vai dizer, mas fecha a porta para uma candidatura? Não está nos meus planos ser candidato. Está nos meus planos ajudar o meu pai a realizar o sonho dele. Qual é o sonho dele? É fazer um excelente governo. 

Não está nos meus planos ser candidato

Quem é Filipe Mello:

Tem um paralelo que o próprio governador fez numa entrevista a um colega um tempo atrás, em que ele disse assim – já tem os Bolsonaro, já tem os Amin, agora os Mello… Não teremos então os Mello no poder?  

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Os Mello já tem, a população escolheu o Mello, né? É igual aquela história, quando a gente casa, leva a família da mulher junto, para o bem ou para o mal. Salvo raras exceções. Mas existe uma diferença brutal, porque o político na família é o governador Jorginho Mello. É diferente de outros projetos políticos. Isso é melhor ou é pior? Não estou falando isso. 

Então não teremos uma nova dinastia política em SC?

Não faz sentido falar sobre isso, porque não é essa realidade. Existe aqui Florianópolis um movimento muito forte trabalhando e desejando que o Bruno, meu irmão, seja vice do Topázio. 

Ele pode, legalmente? 

Existem dúvidas reais que estão sendo sanadas. Se puder, eu defendo o Bruno candidato a prefeito, eu não defendo o PL vice do Topázio. Essa é a minha opinião. Eu defendo que o PL tenha candidato próprio, porque existem ideias e projetos de cidade que nos aproximam do prefeito Topázio, e existem outros que nos distanciam. Eu defendo chapa pura, não ter coligação. Meu pai não foi candidato de chapa pura? O PL em Santa Catarina há três eleições disputa para deputado com chapa pura. Quando não era obrigatório, quando as coligações na proporcional eram permitidas ainda, o PL foi de chapa pura e elegeu três deputados estaduais. É por ideologia. Essa história de amarra política, de acerto do partido para cá, para lá, isso nunca deu certo. A sociedade viu que isso não funciona. Se eu acredito no projeto daquele partido ali, eu vou votar naquele número ali. Se eu não acredito, eu voto em outro número. Então eu defendo que em Florianópolis o PL tenha candidato a prefeito. 

O Bruno? 

É possível que seja o Bruno, é possível que seja a vereadora Maryanne Matos, é possível que sejam outras lideranças do partido, lideranças empresariais e sociais que que pensam como nós, como pensa o Partido Liberal, que pensa como o Jorginho Mello e o Bolsonaro. 

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Eu defendo o Bruno candidato a prefeito, não defendo o PL vice do Topázio

No último ano, a impressão é que o PL estava mais concentrado no governo e as eleições municipais ficaram para depois.

O PL está voando baixo, está bem estruturado no Estado, compondo as candidaturas municipais. O PL está na missão de não errar nas escolhas. Não é porque muita gente quer ser candidato pelo PL, ou porque quem está em outro partido quer muito ter o apoio do PL. É pelos valores do governador Jorginho Mello e os valores do Bolsonaro, da direita.  

Quem vai fazer essas escolhas é o próprio governador? 

É o próprio governador. Nós palpitamos de todas as formas, mas ele decide. Ele toma decisão. 

Já se falou no teu nome para presidir o partido em SC. Quais as chances disso acontecer?  

Nenhuma. 

Por que?  

Porque ele é o presidente e eu ajudo o presidente do partido. 

Mas não é pesado para o governador acumular os dois cargos? 

Não tem sido.  Ele tem feito isso com tranquilidade, talvez pelo fato de que ele trabalha de segunda a domingo todas as semanas. Esse é o Jorginho Mello, é real.  

Ele tirou férias agora no fim do ano? 

Não tirou. Sabe o que ele fez esse fim de ano? Ele visitou algumas emergências de hospitais durante a madrugada. É um período do ano em que, por conta do turismo de mar e sol, o Litoral está lotado de pessoas. Evidentemente, os sistemas de saúde, seja o público ou privado, estão altamente pressionados. O que é que ele fez? Ver como é que está funcionando. 

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E essas visitas tiveram aviso prévio? 

Sem aviso prévio. 

Ele foi sozinho? 

Foi ele e o ajudante de ordens dele, o motorista dele. E conversou com médicos, conversou com mães, ouviu indignação, ouviu elogios, ouviu reclamações e anotou tudo e levou para resolver. Esse é o Jorginho. 

Como foi a infância, a adolescência, com um pai que, como você mesmo disse, abriu mão da vida familiar para estar na política? 

(Filipe faz uma pausa e pensa)

Se tornou uma infância boa porque nós sempre enxergamos nele a alegria de resolver algo para alguém. Lembro da empolgação dele quando ele foi o relator, na Assembleia Legislativa, das bolsas de estudo do artigo 170, as antigas bolsas que agora foram extintas para dar lugar à Universidade Gratuita. A gente cresceu vendo isso e convivendo com isso, com um pai que não estava diariamente conosco, mas o que ele estava fazendo, fazia muito sentido para nós e nos deixava felizes. E isso é um orgulho tanto para mim quanto para o Bruno. Aquela infância, que poderia ser um pouco revoltada pela ausência do pai, ela foi preenchida por um orgulho de saber que o pai estava fazendo.

Qual é o perfil do secretário da Casa Civil que o governador está procurando, e que você acha que é o melhor? 

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A escolha é dele, vai ser dele. A decisão é dele, obviamente. 

Mas você vai opinar. 

Se ele perguntar, sim. 

Não perguntou? 

Ainda não. O que eu penso, eu ouvi uma frase, uma vez, endereçada a um presidente da República por uma pessoa muito sábia na política brasileira. Esse ex-presidente tinha três nomes para ministro da Casa Civil, e consultou essa pessoa, que disse: Não é o presidente que escolhe o ministro da Casa Civil. É a Casa Civil que escolhe o seu ministro. Dentre aqueles que você confia para ser ministro da Casa Civil, quais deles reúnem as características e as condições administrativas, políticas e pessoais nesse momento, para desempenhar essa função? Traduzindo para o nosso mundo, quais as qualidades e características que essa pessoa tem que ter para ocupar essa função de secretário da Casa Civil? Tem que ter um bom relacionamento com os poderes, tem que ter convívio com setores da política, da sociedade privada, da sociedade civil, enfim, tem que ter sangue frio e couro duro para desempenhar bem a função. Não se escolhe a pessoa e depois adapta ela à Casa Civil, a Casa Civil é que escolhe o seu secretário. Eu acredito nisso. Acabei entrando nessa história por uma construção de fora para dentro. Se você conversar com alguns deputados estaduais, alguns vão te dizer que lá em outubro, setembro, estavam pedindo para o governador colocar o Filipe de secretário. Tem um grupo de deputados estaduais que quer fazer um documento com a maioria da Assembleia pedindo que eu assuma ainda. 

E ainda é possível? 

Não, decisão tomada. 

Mas ainda tem mais alguns anos de governo pela frente. 

Decisão tomada, não precisamos de polêmica. Boa polêmica nós topamos. Discutir projeto, discutir o Estado, o que está certo, o que está errado, o que tem que melhorar. Esse tipo de polêmica é boa. Agora, eu ficaria chateado com a polêmica criada se fosse – Ah, ele não tem qualificação, ele não serve pra isso. Isso é um empreguinho que o pai está arrumando. Mas o tal do Filipe Mello é advogado especialista em direito público, é advogado há 21 anos, ocupou cargos, foi conselheiro da OAB. Ou seja, tem vida, tem uma história, está indo por um projeto quem em SC faz sentido.

Na base do governo, não foi todo muno que se manifestou sobre a indicação. O que isso significa? 

Internamente, quase todo mundo prestou solidariedade. Publicamente, a maioria dos nossos parceiros, das nossas lideranças se manifestaram e inclusive alguns de outros partidos, como por exemplo o líder do PP, deputado Pepê Colaço, a deputada Paulinha, do Podemos, deputados do MDB. Não teve um movimento nosso (para pedir apoio). Nós entendemos que isso não era necessário, sabe?

Falando no PL, o senador Jorge Seif está passando por um processo de cassação que subiu para Brasília. Que cenário você vê?

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Primeiro, eu acho que ele não vai ser cassado. Não há elemento nenhum para cassar conforme o próprio TRE. Mas isso está na está na imprensa, está na mídia, né? Está na está na pauta política. Se ele for (cassado), se isso por algum motivo acontecer, é nova eleição. E o partido, o PL, escolher um outro candidato. 

Quem seria esse candidato? 

Não existe nem hipótese de conversar sobre isso, porque a hipótese da cassação não é posta como uma possibilidade. Uma cassação do Seif seria um desastre, uma tragédia. O catarinense escolheu o Seif e votou por qualidades dele, por alinhamento ao Bolsonaro. Então, esse é um assunto que não existe hoje dentro do partido. Existe uma preocupação, é claro, é normal, natural. Existe um processo, e todo o processo gera uma preocupação. Mas, por outro lado, há uma tranquilidade principalmente depois da decisão do TRE. A própria procuradoria regional eleitoral, o Ministério Público entendeu que não tem por que cassar. Evidente que, se por um acaso acontecer, o próprio Seif, junto com o governador Jorginho, junto com o presidente Bolsonaro, junto com a direção do partido, vão sentar e pensar num nome. 

O Eduardo Bolsonaro saiu em sua defesa nas redes sociais. Qual é a relação hoje da família Mello com a família Bolsonaro? 

Muito próxima, muito boa, muito presente. O vídeo do Eduardo Bolsonaro não foi um pedido nosso. Ele fez isso porque ele viu algo semelhante àquele fato de quando o presidente Bolsonaro escolheu ele para ser o embaixador do Brasil nos Estados Unidos. 

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Jorginho defendeu ele naquela ocasião. 

E defendeu por quê? É por isso que eu posso dizer que a esquerda é hipócrita, porque olha só: Qual é a importância do embaixador? Ela é, sobretudo, econômica. O embaixador, dentro de um outro país, representa o seu país, econômica e culturalmente, dentre outras, funções do cargo. O Eduardo Bolsonaro era filho do presidente do Brasil, deputado federal mais votado do Brasil, tem história, tem guarda-roupa para isso. Tem muito embaixador por aí que nem se compara, que não tem o currículo do Eduardo. Filho do presidente, ou seja, próximo ao presidente, tem condições de defender os interesses do Brasil, os interesses republicanos junto ao pai. Era amigo da filha e do presidente americano. Ou seja, portas abertas. Existia naquele momento alguém melhor para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos para defender os interesses do Brasil? Não existia. Só que aí se criou uma polêmica porque ele era filho do Bolsonaro e o melhor para o país não foi feito. O Brasil saiu perdendo. 

Santa Catarina perde por você não assumir a Casa Civil? 

Não sei responder, eu acho que é muita pretensão minha falar algo nesse sentido. O que eu sei é que eu iria construir um planejamento para dinamizar ainda mais o governo. Esse planejamento agora fica com quem for ocupar a função, para que as relações institucionais estejam mais aprimoradas, com menos atritos, com mais respeito, facilidade, com mais fluxo de informações.  Uma relação, inclusive com a imprensa, mais fluida. Teve a substituição do secretário João Debiasi, ele fez um bom trabalho, mas existe um perfil diferente da comunicação do governador Jorginho e por esse motivo foi a opção pelo novo secretário da comunicação, João Paulo. Então, se Santa Catarina perde? Acho que não. Sinceramente, acho que não perde absolutamente nada com a minha não ida porque tudo que eu puder fazer para ajudar, eu vou fazer. O Bernardinho, técnico da seleção de vôlei, ele tem uma frase que que a gente gosta muito, que a gente fala lá em casa: não reclame, apresente-se e faça o seu melhor. Era o que eu ia fazer. Mas, se é para alguém desavisado dizer que o Jorginho Mello fez nepotismo, não precisamos disso. Ele não precisa disso. Eu não preciso disso. Foi por isso que eu disse, não preciso de emprego, não é uma forma arrogante de dizer, é uma forma verdadeira. Todo mundo reconheceu as minhas características pessoais, técnicas, meu currículo. Fiquei lisonjeado com as decisões judiciais, que textualmente reconheceram isso, mas eu tenho um defeito. E eu tenho que entender esse defeito. E é biológico. 

Eu tenho um defeito e tenho que entender esse defeito. E é biológico

Dizem que você é os ouvidos do governador no lado de fora, é isso mesmo? 

É verdade, pode-se dizer que sim, embora não exatamente o ouvido, eu complemento o que ele ouve. Acho que é muita pretensão minha falar que eu sou o ouvido dele, que o que eu escuto é o que chega (ao governador). Não é isso. Eu não estou no dia a dia com ele. Hoje (quinta-feira) falei com ele por telefone. Ele passou uma missão ontem para cada secretário, entregou a pauta, uma bula, aquilo que não pode terminar o ano sem estar feito. Então foi essa foi a tônica da reunião lá na Fiesc (reunião de colegiado). Ele está muito focado nisso. A gente conversa muito sobre o plano de governo, e praticamente tudo o que prometeu ele já cumpriu, o que era mais difícil já está feito. Um exemplo é a Universidade Gratuita. Outro é a fila das cirurgias eletivas, uma fila que nunca vai acabar, isso precisa ser dito. O problema é aquela fila que não anda. A fila andou, pelo trabalho que ele e a secretária Carmem fizeram. Sobre o aspecto político institucional, eu conversei já com mais de 30 deputados. Recebi mensagens e ligações de muitos desembargadores, desembargadoras, promotores, promotoras, juízes indignados com o que aconteceu. São pessoas que nos conhecem, pessoas sérias, e que sabem que tanto o Filipe quanto o Bruno, nós não dependemos da política, nós não vivemos da política.  Nós convivemos com a política por causa do pai. Muita gente está dizendo para nós – vocês erraram, deveriam manter essa posição porque em dois, três meses de trabalho todo mundo iria entender por que isso foi feito. Estava tudo certo. Mas eu não quero sustentar uma polêmica, e aí é de foro pessoal, é íntimo. Precisa de emprego? Sustenta a polêmica.  Não é o meu caso. Não tem o que fazer? Esquece o dinheiro, vamos pensar em outros valores da vida, trabalho, dignidade. Eu me sinto bastante útil no que eu faço, o meu trabalho me dignifica. Preciso ir para lá para isso? Também não. Coloco na balança, e o que me fez aceitar foi o que me fez recuar. Eu aceitei porque eu sou filho. E recuei porque eu sou filho. O mesmo motivo que me fez me fez ir, me fez voltar. A gente precisa que o governo vá bem, que Santa Catarina vá bem, que dê tudo certo. É um ano de pautas importantes na Assembleia, um ano de ano de eleição municipal. A gente tem um projeto político, a meta é pelo menos dobrar o número de prefeitos. Essa é uma meta muito audaciosa. Mas, mais do que eleger prefeito, a meta é em cada município plantar uma semente. Às vezes, ganhar é perder e perder é ganhar. Tem cidades em que provavelmente o nosso candidato vai perder em que nós poderíamos ser vice. Mas vale mais a pena disputar eleição, apresentar aquilo que nós pensamos. Em algumas cidades, é isso que vai acontecer. E isso é melhor do que ganhar o poder. Tem que ter projeto, não é poder pelo poder. Quem escolhe hoje é o povo. E o Jorginho Mello e o os filhos do Jorginho entenderam isso há bastante tempo. Jorginho Mello tem uma frase que a gente sempre fala, lá em casa – se preocupe mais com a preparação do que com a vitória. É um mantra dentro da nossa família. Nossas campanhas, sempre sem dinheiro, tendo que se virar sempre na pindaíba, na criatividade. A gente foi criado na dificuldade. Por isso estamos sempre no modo alerta, sempre com a guarda alta, esperando o “jab” que vem do outro lado. 

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