Temos o hábito de dizer que as coisas são inacreditáveis no Brasil. Mas a morte por motivação política no Paraná e o estupro no Rio de Janeiro, praticado por um médico anestesista durante uma cesariana, provam que nada mais, no Brasil, é inacreditável. No Brasil, tudo é possível.
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O caso do Rio é bárbaro e chocante por tudo o que envolve. Um crime hediondo contra uma mulher sedada, desacordada, que não tinha como se defender. Praticado por um médico, que tinha o dever funcional de zelar pela vida, pela saúde e pelo bem-estar de seus pacientes, e que tinha total controle sobre a vulnerabilidade de sua vítima. E ocorrido durante um parto, uma situação que, para a maioria das mulheres, é a mais importante da vida. Um momento sagrado, de trazer uma nova vida ao mundo.
Estupro é sobre subjugação e poder. E esse homem se sentia poderoso a ponto de praticar um crime bárbaro na mesma sala em que o restante da equipe médica finalizava uma cesariana, a menos de um metro de distância.
Nossa sorte é que as enfermeiras e técnicas em enfermagem presentes conseguiram filmar a brutalidade. O que teria ocorrido se não houvesse a gravação? Provavelmente seriam desacreditadas, como ocorre com frequência com quem denuncia crimes sexuais – em geral, as próprias vítimas.
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Isso é o que se convencionou chamar de cultura do estupro. As situações que relativizam, de forma sutil ou explícita, a violência sexual contra a mulher, e que tornam o combate a esse tipo de crime um desafio. Não por acaso, a estimativa é que apenas 10% dos casos de estupro sejam denunciados no Brasil. Fala-se de cultura porque a subjugação da mulher não é um comportamento natural, é uma construção cultural. Criada por nós, precisa ser desconstruída.
Mulheres não estão seguras em nenhum lugar, nem mesmo enquanto dão à luz. O estupro não tem nada a ver com a roupa da vítima, com o local onde ela está. É sobre homens que se sentem autorizados a utilizar o corpo de uma mulher para se satisfazer. Hoje, o grito engasgado na garganta de todas nós é um só: tirem as mãos dos corpos das mulheres.
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