A Fundação Cultural de Balneário Camboriú prepara para uma missão delicada: retirar e “trocar de lugar” a estátua de bronze que representa o ex-presidente João Goulart e os dois filhos no calçadão da Avenida Atlântica. O processo é necessário para permitir o andamento das obras de reurbanização da Praia Central.
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Jango está no mesmo local há quase 20 anos. A escultura, assinada pelo artista plástico Jorge Schroeder, é um monumento público para relembrar o local onde o ex-presidente passava as férias com a família em Balneário Camboriú, em uma casa à beira-mar que hoje dá lugar a um restaurante.
– A casa de Jango estava para receber o tombamento público, cerca de 30 anos atras. Mas, quando foi apreciada a arquitetura, não tinha mais as características originais. Então, pelos anos 2000, a Fundação Cultural fez uma nova apreciação do tema e optou por fazer esse monumento para marcar o local onde o presidente veraneava. Por isso ele está de costas para a praia, está olhando para onde seria a localização da casa – diz Lilian Camargo, restauradora e diretora da Fundação Cultural.
O projeto de reurbanização, no entanto, trouxe um entrave: o calçadão, que está sendo ampliado, terá novas áreas de convivência e lazer, pistas de caminhada e corrida, além da ciclofaixa. Com isto, a posição do monumento virou um impasse. Após uma série de análises, a decisão foi afastar a estátua de Jango em relação ao local original. O presidente ficará mais perto da praia no novo projeto.
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– Movimentar um monumento exige uma leitura estética, conceitual, para fazer a adequação da maneira menos impactante possível. O foco era o olhar dele para a antiga casa. Não fazia sentido deslocar para a direita ou a esquerda – explica Lilian.
A estátua está passando por um laudo e deve ser movimentada já nas próximas semanas. A prospecção do macaqueamento – o processo para “erguer” a estátua e a base, que tem inscrições em bronze – já foi feita.
– Monumentos são protegidos por convenções internacionais. A movimentação é uma questão muito séria porque mexe com a afetividade das pessoas, com a história da cidade – diz a diretora da Fundação Cultural.

A relação de João Goulart com Balneário Camboriú ajudou a tornar a cidade famosa e fez surgir uma das primeiras ondas de investidores.
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– Ele vinha para cá há tempos, desde quando era deputado, depois ministro e vice-presidente. João Goulart gostava muito de Balneário Camboriú, e naquele tempo inclusive criou-se o primeiro epíteto para a praia, que foi o de praia presidencial – disse o historiador Isaque Correia.
A presença de Jango em Balneário foi especialmente importante em 1962. Naquele ano, de crise econômica no Brasil, a cidade começou a crescer na contramão da economia brasileira, com o surgimento de novos empreendimentos. O motivo era simples: os empresários decidiram investir onde o presidente da República investia.
Balneário Camboriú, a “praia presidencial”, ganhou as páginas das revistas nacionais e, até hoje, circulam na internet filmes antigos de divulgação que foram produzidos naquela época.
Jango acabou deposto pelos militares e perdeu a presidência. Mas o lugar dele na Avenida Atlântica permanece eternizado com o monumento e uma frase de reconhecimento. “Balneário Camboriú: A praia do presidente Jango”.
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