Chamou atenção a afirmação do presidente da Federação Catarinense de Municípios (Fecam), o prefeito de Major Vieira, Orildo Severgnini, sobre o decreto estadual que restringe o transporte coletivo e o acesso a espaços públicos nas cidades que estão em nível gravíssimo de risco em SC. Ele disse em entrevista ao colega Leandro Lessa, da CBN Diário, que as prefeituras foram pegas de surpresa e que faltou diálogo com os municípios.
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Outros prefeitos também se manifestaram, abertamente ou nos bastidores, queixando-se da suposta surpresa com as medidas. Sim, suposta. Porque somente quem não acompanha os números crescentes de casos e óbitos por Covid-19 a pode se surpreender com a decisão do Estado de restringir atividades – o que só ocorreu depois que 187 catarinenses morreram em razão do novo coronavírus em apenas uma semana, de 10 a 17 de julho.
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Os municípios não podem alegar desconhecimento porque recebem, ao menos uma vez por semana, a atualização do mapa de gestão de risco do Estado, que indica o nível de alerta em cada uma das cidades. Esse material inclui uma lista de recomendações aos gestores públicos. Em regiões que estão com nível gravíssimo de risco, uma das medidas a ser tomada é restringir atividades que promovam maior risco de transmissão.
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Embora o governo não seja objetivo, listando quais deveriam ser as atividades suspensas a cada novo nível de risco, os especialistas são claros. Um ranking feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, trouxe o transporte coletivo em segundo lugar entre os ambientes onde há maior risco de contrair o vírus. Só perde para os hospitais. A decisão do Governo de Santa Catarina, portanto, tem base técnica e científica.
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Decisão, diga-se de passagem, bastante conservadora. Teve pouco efeito na região de Itajaí e em Blumenau, por exemplo, onde o transporte público já estava suspenso e, no Litoral, o acesso a parques e praias também.
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O governador Carlos Moisés (PSL) tinha respaldo para ir além. Uma recomendação importante dos técnicos da Secretaria de Estado da Saúde, embasada em dados científicos das projeções do Imperial College de Londres, apontou a necessidade de que o Governo de SC tomasse as rédeas diante da inércia dos municípios.
Outro documento, do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde, entregue na sexta-feira (17), aponta para o risco de colapso no sistema de saúde. Não apenas pela necessidade de novos leitos, mas também pela falta de mão de obra. Este é um problema sério, porque sem pessoas para operar os novos leitos, a ampliação no número de UTIs e respiradores disponíveis é inócua. Era hora de agir.
O Estado pecou e foi bastante cobrado – inclusive pelo Ministério Público – ao se afastar da gestão e deixar o peso das decisões mais difíceis somente sobre os prefeitos. Mas os prefeitos erram, também, ao alegar surpresa quando o governo decide agir diante da inércia.
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A estratégia de alguns prefeitos de “jogar para a torcida”, reclamando das posições mais duras depois de terem se queixado por gerirem a crise sozinhos, parece ser uma maneira de despistar os descontentes. Antes, não agiam porque o Estado não ajudava. Agora, abafam eventuais pressões do setor econômico alegando que foram pegos de surpresa.
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Nesse jogo de empurra, voltamos ao cerne do problema: uma crise sanitária sem precedentes, a poucos meses das eleições municipais. Enquanto Santa Catarina enfrenta a aceleração da pandemia, alguns prefeitos mantêm um olho no coronavírus, e o outro nas urnas.
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