Entidades empresariais pressionam para que o governo não adote o fechamento de atividades como estratégia para reverter o colapso no sistema de saúde. Em um ofício, assinado por mais de 180 associações e sindicatos patronais, afirmam apoiar as medidas vigentes e apontam que um lockdown poderia “colocar em xeque a sobrevivência de milhões de catarinenses”. O Estado enfrenta colapso no sistema de saúde, com recorde de internações e óbitos por Covid-19.
Continua depois da publicidade
> Cresce o número de crianças e adolescentes contaminados pela covid-19 em SC
> Lockdown pode parar na Justiça: para MP medidas do governo não fizeram efeito
A manifestação foi enviada a poucas horas da reunião marcada pelo governador Carlos Moisés (PSL) com os prefeitos, para discutir novas medidas para enfrentamento da pandemia. A carta foi enviada om um alerta de tema ‘urgentíssimo’. A maioria das assinaturas é de Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs) de todo o Estado.
> Restrições em SC: governo discutirá com prefeitos novas medidas contra Covid-19
Continua depois da publicidade
No texto, as organizações dizem que medidas de lockdown são sugeridas por “profissionais portadores de privilégios funcionais”, em referência à recomendação de restrições que partiu do Ministério Público. O ofício faz apelos diretos a Moisés: “Cresce, no seio da população, o receio de uma paralisação linear total e irrestrita das atividades produtivas, com o iminente potencial de gerar prejuízos irreversíveis na sustentabilidade das empresas que ajudam a colocar na mesa de milhões de cidadãos o proverbial e não menos sofrido pão de cada dia. Diante de tal cenário, cumpre-nos reafirmar: permaneça firme, Senhor Governador, no intuito de não cogitar o emprego de meios extremos”.
> Mortes por Covid entre pessoas de 30 a 39 anos já superam todo o mês passado
Sem citar exemplos, a carta faz referência a “gestores públicos sensatos” que, em outros países, “tiveram coragem de ignorar o pânico”. O texto sugere que as pessoas se contaminam em casa. “Senhor Governador, é ingenuidade supor que o coronavírus espera o cidadão catarinense sair de sua residência para só então se alojar no organismo da incauta vítima”.
> Hospitais cobram medidas mais eficazes contra pandemia em SC
A pressão dos grupos econômicos não é a única a recair sobre o governo ao longo das últimas horas. Diante do colapso no sistema de saúde, que reflete em fila de quase 400 pessoas à espera de leitos de UTI, entidades que representam os hospitais emitiram nota, na terça-feira (9). O comunicado, publicado pelo colega Renato Igor, pede ao governador que adote “medidas mais eficazes” para conter a pandemia.
> Painel do Coronavírus: saiba como foi o avanço da pandemia em SC
O Conselho Regional de Enfermagem (Coren) também publicou um apelo, na noite de terça-feira, para que o Estado adote medidas para conter a pressão sobre os hospitais. “É preciso a tomada drástica de medidas restritivas para que paremos a circulação viral”, afirmou o presidente da entidade, Gelson Albuquerque.
Continua depois da publicidade
A reunião entre o Governo do Estado e os prefeitos está marcada para 10h30, e ocorrerá de forma virtual.
Participe do meu canal do Telegram e receba tudo o que sai aqui no blog. É só procurar por Dagmara Spautz – NSC Total ou acessar o link: https://t.me/dagmaraspautz
Ofício das entidades:
“Senhor Governador, Na esteira da última manifestação que dirigimos à V.Exa., é imperativo moral das Entidades e entes despersonalizados abaixo elencados tornar a fazer chegar a vossas mãos as preocupações dos milhares de empreendedores que contribuem diariamente para o desenvolvimento social e econômico de Santa Catarina, referência nacional e internacional de qualidade de vida de seu povo.
À medida que chegam informes no sentido de que o Chefe do Poder Executivo está a sofrer forte pressão proveniente de parcela específica de um contingente de profissionais portadores de privilégios funcionais que o catarinense médio só ousa sonhar, cresce, no seio da população, o receio de uma paralisação linear total e irrestrita das atividades produtivas, com o iminente potencial de gerar prejuízos irreversíveis na sustentabilidade das empresas que ajudam a colocar na mesa de milhões de cidadãos o proverbial e não menos sofrido pão de cada dia.
Continua depois da publicidade
Diante de tal cenário, cumpre-nos reafirmar: permaneça firme, Senhor Governador, no intuito de não cogitar o emprego de meios extremos que podem colocar em xeque a sobrevivência de milhões de catarinenses.
Se o exemplo de outros países serve de consolo, gestores públicos sensatos que tiveram a coragem de ignorar o pânico não raras vezes inflado, e que basearam suas decisões em dados concretos em vez de ceder a projeções empíricas como justificativa para a violação de direitos constitucionais caros, conseguiram restaurar o funcionamento do país e impedir a completa falência nacional pela conjugação nefasta entre uma crise sanitária e outra de viés socioeconômico – esta resultante de medidas impensadas.
O fechamento forçado de negócios e o endurecimento de medidas de isolamento (e não distanciamento) social exacerbam o drama social e psíquico dos cidadãos. Pesquisas realizadas em locais dos Estados Unidos submetidos a um lockdown total apontam um cenário dantesco: quase metade dos que habitavam em tais regiões relataram efeitos negativos na saúde mental, em comparação com 37% (trinta e sete por cento) de compatriotas residentes em outras localidades não sujeitas a essas medidas extremas. Além disso, análise publicada no jornal médico The Lancet revelou que cidadãos americanos submetidos a lockdown relataram níveis elevados de efeitos psicológicos adversos, incluindo distúrbios de estresse pós-traumático, confusão e raiva. Além disso, outra pesquisa demonstrou que cerca de um terço dos adultos nos Estados Unidos se sentiram mais solitários do que o normal durante o isolamento forçado.
Conforme já tivemos a oportunidade de expor em nossa manifestação anterior, a interrupção pura e simples da atividade produtiva em larga escala seguida de ordens de isolamento doméstico não é medida chancelada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os motivos, somados aos acima expostos, não poderiam ser mais óbvios: a população socialmente vulnerável é, seguramente, a mais impactada.
Continua depois da publicidade
De mais a mais, Senhor Governador, é ingenuidade supor que o coronavírus espera o cidadão catarinense sair de sua residência para só então se alojar no organismo da incauta vítima.
O apoio empenhado pelas Entidades e entes despersonalizados que subscrevem este expediente está longe de ser um apelo voltado apenas para as imensuráveis sequelas econômicas que advém de medidas extremas como a que V.Exa. está sendo compelida a adotar; muito pelo contrário, os segmentos produtivos aqui representados têm a exata noção de suas atribuições como fiadores do bem-estar social – responsáveis, em última análise, por manter a sobrevivência de milhões de catarinenses que não gozam da extensa rede de privilégios que acomoda aqueles que desejam o trancamento de todo o Estado de Santa Catarina sem sequer abrir mão de suas vantagens materiais para auxiliar os que mais precisam.
Se é certo que a Covid-19 afeta a todos, também os afetam medidas desproporcionais e desarrazoadas como lockdowns e congêneres. O debate – e consequentemente, a formulação de políticas públicas de curto, médio e longo prazo –, há de ser conduzido em um equilíbrio de fatores que não podem pender para a devastação social e tampouco para um caos na saúde. Este deve ser, em nosso sentir, o norteador de vossas ações como legatário constitucional dos catarinenses.
Isto posto, a sociedade civil organizada, aqui representada pelas Entidades e entes despersonalizados abaixo elencados, reafirmam publicamente o apoio às decisões até aqui tomadas pelo Governo do Estado de Santa Catarina e exortam V.Exa. a fim de que resista a pressões capazes de impor sérios reveses à sobrevivência de quem aqui reside e trabalha”.
Continua depois da publicidade