Carlos Moisés chegou à Casa D´Agronômica sob o peso de ter sido o governador mais votado da história de Santa Catarina, com 71% dos votos válidos. Mas sob a sombra de ter sido escolhido por eleitores que não eram seus.

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Ser alçado ao governo pela onda bolsonarista poderia ter feito de Moisés um minibolsonaro, a repetir em SC os passos do presidente. E era o que esperava uma boa parte de seus eleitores. Mas o governador não se conformou com o papel – e foi aí que começaram os problemas.

Ao criticar o presidente, no primeiro ano de governo, e se aproximar de pautas mais afeitas aos progressistas, Moisés foi tachado de traidor por quem esperava dele fidelidade a Bolsonaro. Perdeu apoio importante de sua base na Assembleia Legislativa e enfrenta dificuldades com os militares, que já foram "sua turma".

O embate público com a vice-governadora, que acaba de engrossar o coro dos que acusam o governador de traição, é mais um capitulo no paradoxal processo de empoderamento de Moisés, um político ainda sem muito jeito para a política. Quanto mais à vontade ele se sente no cargo, quanto mais imprime sua personalidade ao governo, mais isolado fica.

Adepto de um jeito introspectivo de governar, Moisés é criticado por parlamentares e prefeitos pela falta de interlocução. Inaugurou um novo modelo de gestão, de gabinete, e quase não circula pelo Estado.

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O afastamento oficial da vice-governadora, uma "bolsonarista raiz", com muito trânsito entre eleitores mais fiéis do presidente da República em SC, aprofunda as diferenças entre Moisés e uma parte importante de seu eleitorado.

Como lembrou o colega Upiara Boschi, estávamos habituados a acompanhar estranhamentos partidários no governo, que, em última medida, causavam abalos políticos – mas que, via de regra, eram distantes do dia-a-dia do eleitor. Só que são novos tempos, de uma política personalista em um país polarizado, em que o debate político virou um novo – e violento – esporte nacional.

Rompido com Bolsonaro, com sua base na Alesc, e agora com a vice-governadora, Moisés está sozinho em meio à mais desafiadora crise do século. O que pode explicar o vaivém do governo em relação às medidas de isolamento social. Sem apoio de retaguarda, o governo cede às pressões com mais facilidade.

Essa fragilidade poderá pesar caso o governo precise impor novamente regras mais rígidas de isolamento social, agora que liberou o Estado a um ensaio de "normalidade". O resultado das decisões que tomou, e que tomará diante da pandemia, será decisivo no futuro político do governador.

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