Os norte-americanos irão às urnas na próxima terça-feira, 5 de novembro, em uma das eleições mais importantes dos últimos anos. Não apenas porque está em jogo a presidência do país com o maior arsenal bélico do planeta, símbolo do poder ocidental – mas também porque ela indicará qual o fôlego e o poder de fogo da nova ultradireita mundial, que tem em Donald Trump um expoente.

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A esta altura, o bilionário republicano e a democrata Kamala Harris, atual vice-presidente, estão tecnicamente empatados. Um exemplo é a Pensilvânia. Um dos estados pêndulo, que oscilam entre republicanos e democratas – e o maior em número eleitoral – a Pensilvânia registrava, na última pesquisa divulgada pela CNN, na quarta-feira (30), 48% de votos para Kamala e 48% para Trump.

Essa proximidade indica não apenas uma eleição apertada, com resultado ainda imprevisível. Mas, a depender do resultado do pleito, também aumenta as chances de uma insurreição semelhante à de 6 de Janeiro de 2021, quando o Capitólio foi invadido por apoiadores de Trump que contestavam o resultado da eleição que levou Joe Biden à presidência.

Por que as eleições presidenciais nos Estados Unidos são importantes para SC e o Brasil

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Há cerca de duas semanas, Trump referiu-se ao 6 de Janeiro como “um dia de amor”. Nesta semana, Steve Bannon, estrategista da primeira eleição de Trump e um expoente da extrema-direita, deixou a prisão após ter cumprido um período de detenção por obstruir as investigações sobre o Capitólio. Este é o caldo que se forma no lado republicano.

No lado democrata, Kamala Harris, que havia assumido um ar bem-humorado no início da campanha, apostando em tirar Trump do sério – como fez no único debate entre os dois, em setembro – mudou a postura e adotou, nos últimos dias, um ar mais belicoso contra o adversário, classificando Trump como “fascista” ao ser questionada por um jornalista.

A tática de Kamala é expor a tendência autoritária de Trump, de oho nos eleitores independentes e nos republicanos que rejeitam o bilionário ex-presidente,. Um sinal nessa direção foi a declaração de apoio do ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Schwazenegger, que é republicano, mas assumiu voto em Kamala.

Estratégia

Para os democratas, apostar na face mais autoritária de Trump e alertar para o risco à democracia é um apelo diante de resultados do governo Biden que deixaram a desejar. A aprovação do atual presidente – de quem Kamala é vice – chegou a atingir em abril deste ano o menor índice entre os 10 últimos presidentes norte-americanos. Um recorde.

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Um dos problemas que impactaram o governo Biden-Harris foi a alta inflação, sentida no bolso dos americanos. Este passou a ser o principal calcanhar de aquiles depois que o maior elefante na sala dos democratas – a aparente senilidade de Biden – foi solucionado com a troca de candidaturas.

Estacionou

Kamala decolou bem, mesmo tendo assumido em uma campanha que já estava em andamento. Conquistou um número recorde de doções. Mas em seguida estacionou – e este é um problema grave para os democratas. A vice-preidente tem um índice menor do que Biden de intenção de votos entre jovens e afro-americanos, por exemplo. O que compensa é o elevado apoio do eleitorado feminino.

Musk

Trump também tem dificuldades com o eleitorado mais jovem, e vai mal no eleitorado feminino. Em comparação com sua primeira eleição, perdeu no número de eleitoras sem curso superior, em que tinha vantagem em relação aos democratas.

Para amenizar essa distância, especialmente com os jovens, Trump tem o apoio de Elon Musk – o bilionário dono da Tesla, da Starlink e do X (o antigo Twitter) entrou de cabeça na campanha republicana com estratégias que – perdoe o trocadilho – não são nada republicanas. Como oferecer quantias milionárias para estimular eleitores a votar.

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Esta é uma estratégia que já acendeu o alerta ao redor do mundo pelo rico de ser replicada.

Repercussão

O resultado das eleições nos Estados Unidos interessam ao mundo porque, além dos impactos econômicos, os americanos estão envolvidos em quase todas as zonas de conflito ao redor do planeta – da Ucrâna a Israel. Kamala e Trump têm ideias divergentes sobre a manutenção dos EUA nas zonas de guerra.

Há ainda o equilíbrio de forças com as novas potências econômicas, como a China, que ameaça o poderio norte-americano.

E há as repercussões pra a democracia. É inegável que o ex-presidente americano tenha gabaritado a cartiha de “como as democracias morrem”, implodindo e enfraquecendo instituições que deveriam servir como anteparo para avanços autoritários. Tambem incentivou e amenizou a invasão do Capitólio, que mais gtarde serviria como exemplo para o nosso 8 de Janeiro em Brasília. Não há exagero em dizer que Trump joga fora das regras.

Cobertura

Uma campanha tão acirrada tem levado a uma cobertura diferente por parte da imprensa. O The Washington Post, um dos jornais mais tradicionais dos Estados Unidos, perdeu 200 mil assinantes ao eximir-se, pela primeira vez em décadas, de assumir posição. Há diferentes leituras para o movimento, encampado pelo atual dono do veículo, Jeff Bezos, que sofreu perseguição durante o mandato de Trump.

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Uma delas é que a neutralidade levaria em conta os dados econômicos. O The Washington Post estaria, então, reconhecendo que os anos Trump foram melhores economicamente do que os anos Biden. Outra, mais preocupante para a tradição americana, é que o jornal tenha desistido de se posicionar temendo uma vitória trumpista e futuras represálias.

E Lula?

O presidente Lula já se manifestou abertamente contra a eleição de Trump. É um movimento questionável, visto que a vitória trumpista é bastante possível, o que pode causar problemas na relação bilateral com o Brasil. A tendência é que, nesse caso, a política externa de Lula reforce o relacionamento com a China e os emergentes.