A recusa de mais de 160 policiais militares de Santa Catarina em se vacinarem contra a Covid-19, mostrada esta semana pela NSC, sobe o tom do alerta para a politização de setores da PM. Um processo crônico e gradativo que conta com a conivência dos comandos, mancha a instituição e coloca em risco a democracia.

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Mais de 160 policiais militares recusaram vacina contra Covid em SC

O episódio é sintoma de algo mais grave. As justificativas dos policiais para não tomarem a vacina citam razões políticas, sinalizando que a rebeldia negacionista está conectada com o apoio de uma parte das tropas ao presidente da República. Um movimento que ficou mais evidente durante a pandemia, quando Bolsonaro decidiu rivalizar com governadores.

O fenômeno está calcado na insubordinação, que tem rondado os batalhões da PM desde as eleições de 2018, quando as “comemorações” com viaturas e as manifestações de praças e oficiais nas redes sociais, que são proibidas, ficaram impunes. 

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O Exército acaba de dar sua colaboração para esse tipo de comportamento ao não punir Eduardo Pazuello, general da ativa e ex-ministro da Saúde, que participou de ato político ao lado do presidente da República. As forças armadas abrem, assim, um perigoso precedente, que tende a ser imitado e reforçado nas forças estaduais, maiores e mais capilarizadas do que o Exército brasileiro.

O resultado da adesão dos agentes da lei a um projeto político já está nas ruas. Somente nos últimos dias pessoas foram cegadas por balas de borracha, no Recife, durante manifestação contra Bolsonaro. Em Goiás, um professor foi preso por manter no carro um adesivo que diz “fora Bolsonaro genocida”, com base na Lei de Segurança Nacional.

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Em Santa Catarina, mais de 20 pessoas que participaram de uma carreata contra o governo em março, na Capital, recorreram à Justiça para questionar multas que foram aplicadas pela PM durante a manifestação. Elas afirmam que as autuações são indevidas e alegam perseguição política por parte dos policiais.

No ano passado, um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que 35% dos oficiais das polícias militares no Brasil, e 41% dos praças, interagem em grupos bolsonaristas nas redes sociais. Entre os praças – soldados, cabos e sargentos – 25% integram grupos considerados “radicais” pela pesquisa. A região Sul é a que tem mais PMs identificados com o bolsonarismo.

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Vídeos mostram ‘ministério paralelo’ orientando Bolsonaro contra vacinas

O processo de ideologização das forças de segurança passa pelo consumo de informações manipuladas nas redes sociais e chega à oferta de curso online gratuito com o guru do presidente da República, Olavo de Carvalho. Doutrinação à extrema direita, disponível para policiais de todo o Brasil, com direto a teorias da conspiração no cardápio.

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A identificação de policiais e militares com um projeto político é um risco à democracia porque as instituições são o braço armado do Estado. Aos agentes de segurança pública foi entregue a responsabilidade de servir – com uso de força, se necessário – à sociedade e à Constituição. A rigor, a bolsonarização das polícias e do Exército afronta sua função constitucional e envereda o país por um caminho nebuloso.

Parafraseando a médica Luana Araújo, que depôs na última semana à CPI da Covid, trata-se de mais um episódio que coloca o Brasil na vanguarda. Vanguarda do absurdo, vanguarda do descalabro, vanguarda do macabro, vanguarda da ignorância.

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