O desfile de blindados na Praça dos Três Poderes, na manhã desta terça-feira (10), ficará marcado como mais um episódio da distopia para onde o bolsonarismo empurrou o Brasil. Um arremedo daquelas exibições militares que são comuns em países comandados a mão-de-ferro (com uma frota de tanques de guerra que incluía peças dignas de museu).

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Seria apenas patético não fosse o simbolismo perverso: o fumacento espetáculo, que remete à ditadura, é uma tentativa de demonstrar força e adesão militar por um governo fraco, encurralado pela inflação galopante, os altos índices de desemprego e a instabilidade política. Uma tentativa de pressionar o Congresso Nacional horas antes da votação da desnecessária e obtusa PEC do voto impresso.

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A “parada militar” desta terça-feira expôs o abjeto descaso do presidente da República e dos comandantes de forças militares, que se exibiram sem máscaras em meio a uma pandemia que já matou mais de meio milhão de brasileiros, e poluiu o ar com um insuportável cheiro de golpe. 

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Há uma conhecida expressão em inglês que diz que “se algo parece com um pato, nada como um pato e grasna como um pato, é bem provável que seja um pato”. Mesmo assim, governistas tentaram minimizar o fato. Entre eles o vice-líder do governo, senador Jorginho Mello (PL), que disse na CPI não ter visto nada demais. Foi repreendido, com veemência e para todo o Brasil ver, pelo senador Omar Aziz: “O senhor já tem idade para saber um pouco da história”. 

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Enebriados pelo grande apoio popular que o presidente recebeu no fim de semana em SC, um dos estados com maior número de apoiadores do governo no país, parte dos parlamentares catarinenses engoliu a seco o compromisso que firmaram com a Constituição. É lamentável que a grande maioria da bancada apoie a PEC do voto impresso e alardeie que as urnas pelas quais foram eleitos não são seguras ou “auditáveis” – o que, como bem sabem, é mentira. 

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Quem surfa a onda do golpismo em troca de votos sabe que põe a democracia em risco e conhece (ou finge desconhecer) o preço a ser pago. Ulysses Guimarães disse: “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”. O Brasil será sempre melhor com a democracia – a mesma democracia que ajudou a eleger quem hoje covardemente a ataca.

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