Nesses tempos estranhos que estamos vivendo, sempre é preciso se perguntar até onde vale a pena ‘dar corda’ a um notório polemista. Há casos, no entanto, em que deixar de falar do absurdo significa dar a ele um perigoso verniz de normalidade. E é nessa categoria, dos absurdos, que se enquadra uma publicação feita pelo deputado Jessé Lopes (PSL) nesta sexta-feira (31).
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Contrariando as orientações das autoridades de saúde e os decretos estaduais, o parlamentar usou as redes sociais para estimular as pessoas a descumprirem as regras e se exporem ao coronavírus. Uma irresponsabilidade e uma afronta à saúde pública, que atentam contra uma das obrigações fundamentais de um deputado, segundo o regimento da Alesc: defender o que é de interesse público.
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A transmissão da Covid-19 reacelera de forma preocupante em Santa Catarina. Reportagem de Claudia Morriessen, publicada no NSC Total, mostra que há mais de 13 mil pessoas infectadas com a doença ativa em Santa Catarina – o segundo maior número desde o início da pandemia.
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O GT de Fiscalização usou pela primeira vez um alerta geral por SMS, disparado para todos os telefones celulares do Estado, avisando sobre o risco de contaminação neste feriado. A preocupação das autoridades de saúde é que o aumento repentino dos casos leve à falta de lugar para pacientes nas UTIs, o que representa o pior cenário no enfrentamento ao coronavírus.
Mas não para Jessé Lopes. O deputado, que gosta de falar à torcida, estimula conscientemente o caos e desrespeita as famílias dos mais de 3 mil catarinenses que já morreram de Covid-19.
Se Jessé for contaminado, e precisar de atendimento médico, certamente terá – deputados têm plano de saúde e um salário de R$ 25 mil. Nem todo catarinense tem a mesma sorte.
Jessé Lopes age dessa maneira porque nunca encontrou freios ou limites em sua atividade parlamentar. Já foi representado inúmeras vezes à Comissão de Ética da Assembleia Legislativa, sem que nada o atinja. A lista é longa. Inclui ‘suspeita de discurso homofóbico e transfóbico’, invasão da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e afirmação de que assédio ‘massageia o ego’ das mulheres, entre outras pérolas.
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Até agora, nada disso foi visto como afronta ao cargo pelos deputados que integram a comissão. Da mesma forma, nenhum dos outros 39 parlamentares se manifestou nas redes sobre a afirmação infeliz do colega até a manhã deste domingo (1).
Estivéssemos em um país sério, Jessé Lopes já teria sido punido para que, no mínimo, compreendesse o peso que tem o cargo que ocupa. Enquanto a Alesc não tomar uma atitude, o deputado, do alto de sua imunidade parlamentar – em que parece se escorar para as molecagens que publica por aí – continuará envergonhando o Legislativo.
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