A decisão de Joe Biden de abrir mão da candidatura à reeleição, em favor de Kamala Harris, era o último gesto que os democratas poderiam fazer a esta altura para desviar dos republicanos o holofote das eleições norte-americanas. Donald Trump, que já vinha na posição de favorito, ganhou um impulso com o atentado do dia 13 de julho, que o alçou ao papel de “mártir” e o tornou quase imbatível.
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É muito difícil competir com um candidato que encarna o papel de “escolhido”. Que o diga Fernando Haddad, que disputou o segundo turno com Jair Bolsonaro após a facada em 2018.
Mas o atentado contra Trump parece ter sido a peça que faltava para convencer Biden a abrir mão de uma candidatura que ele, claramente, não tinha condições de levar adiante. O atual presidente escorregou feio no debate do dia 27 de junho e na entrevista coletiva que concedeu duas semanas depois. Falhou em convencer o eleitorado, e a imprensa, de que estaria apto a conduzir por mais quatro anos o país que ostenta o maior arsenal bélico do planeta.
Joe Biden desiste de candidatura à reeleição nos EUA
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Com Kamala, os democratas ganham um novo sopro de esperança. Não será uma missão fácil: a vice-presidente de Biden teve um mandato abaixo das expectativas, e uma aprovação mais baixa do que o esperado. Recaiu sobre ela a falta de respostas à violência contra os negros nos EUA, por exemplo, após a explosão do caso George Floyd.
As pesquias indicavam que a melhor saída para os democratas era a ex-primeira-dama Michelle Obama. O problema são as doações já feitas à dobradinha Biden – Harris, que seriam perdidas nesse processo. Com Kamala, o financiamento está garantido.
De quebra, os democratas ganham algum frescor numa eleição que, para o eleitor médio, parecia uma disputa entre dois velhos decrépitos. Negra e latina, Kamala pode virar o jogo numa disputa que parecia consolidada e se tornar a primeira mulher a comandar o EUA. Tudo dependerá, agora, de como o eleitorado democrata vai encarar a mudança – e de quanto o atentado a Trump influenciará o voto norte-americano.