A CPI da Covid ouve nesta terça-feira a médica Nise Yamaguchi, oncologista, imunologista, e notória defensora da cloroquina para o tratamento da Covid-19. A coluna conversou com ela há quase um ano, em julho de 2020. De voz suave e fala rápida, Nise Yamaguchi confirmou na época que falava frequentemente com o presidente Jair Bolsonaro e que, embora nunca tenha ocupado cargo no governo, o “ajudava”. 

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Entrevista com Nise Yamaguchi: “É uma guerra biológica, ideológica e de narrativa”

A médica disse, por exemplo, que colaborou com a nota técnica do Conselho Federal de Medicina sobre a “autonomia dos médicos” – salvaguarda para o uso de cloroquina, ivermectina e outros medicamentos sem eficácia comprovada contra Covid-19. E foi ela quem sugeriu que o governo pedisse aos EUA a doação de comprimidos de cloroquina aos Brasil.

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Relembre trechos da entrevista:

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A senhora teve alguma nova conversa com o presidente sobre o Ministério da Saúde?

Sempre converso com ele sobre outros assuntos. Só ajudo no que eu posso. Pedi para trazer insumo para o Brasil, que faltavam comprimidos, o Trump mandou. Eu sempre estou preocupada com o global e a estrutura. Passei no Conselho Federal de Medicina, fizemos a nota técnica (sobre hidroxicloroquina, que estabelece autonomia dos médicos).

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Na entrevista, Nise Yamagushi revelou ainda que, embora tenha sido cotada para assumir o Minstério da Saúde mais de uma vez, até aquele momento não havia recebido nenhum convite formal. Quem estava no comando era o general Eduardo Pazuello. 

Bolsonaro chegou a fazer um convite formal para a senhora assumir o ministério?

Não, nunca.

A senhora aceitaria?

Aceitaria, neste momento sim. Para mim é uma questão, neste momento, muito mais voltada para o conceito de que há possibilidade no Executivo de realizar o que você precisa que seja realizado. E a falta que faz, no Brasil, um médico para chamar de seu. Alguém com quem os pacientes se relacionem. Para mim, (ser ministra) seria um grande sacrifício para os meus pacientes. Eu teria que ir num sistema em que eu pudesse ainda continuar atendendo os meus pacientes. Eu não posso abandoná-los. Se a gente conseguisse adotar um modelo operacional em que nos finais de semana eu pudesse atender meus pacientes, pudesse dar uma assistência remota a eles, com a minha equipe, eu iria.

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Para os senadores da oposição, o foco do depoimento é o suposto ‘gabinete paralelo’ do Ministério da Saúde – um aconselhamento informal que teria sido decisivo para os rumos da pandemia no governo Bolsonaro. Mas os governistas da Comissão se armam para mais uma sessão de defesa do famigerado ‘tratamento precoce’, a exemplo do que ocorreu durante a oitiva da médica Mayra Pinheiro, a ‘capitão cloroquina’.

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Nise Yamaguchi conhece a estrutura do governo, aconselhou o presidente da República e pode acrescentar informações importantes à investigação da CPI. Mas os senadores correm o risco de fazer da comissão um conveniente palco para a defesa da cloroquina.

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