A história da tragédia brasileira na condução da pandemia de Covid-19 pode ser contada pelo desempenho, ascensão e queda dos ministros que conduziram a Saúde na mais grave crise sanitária que o país já enfrentou. Três médicos e um general ocuparam o posto, para o qual a fidelidade ao presidente da República passou a ser o único ativo importante – a despeito de competência e resultados.

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Os quatro serão ouvidos pela CPI da Covid, que começa esta semana no Senado. Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga são personagens fundamentais para explicar por que o país chegou atrasado à fila da vacinas, deixou faltar suprimentos básicos para suporte de vida, como oxigênio e remédios do kit intubação, e se tornou celeiro de novas e mais perigosas variantes do novo coronavírus.

O rumo das sabatinas é previsível. Dos quatro ministros, dois caíram por discordar da negação da ciência e da prescrição de remédios que não tinham (e ainda não têm) comprovação de eficácia contra o novo coronavírus. Hoje, sabe-se que também potencializam o risco de morte entre os acometidos pela Covid-19.  

Mandetta defendia medidas de isolamento social. Teich, testagem em massa. Nenhum dos dois sobreviveu a Bolsonaro. 

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Os dois ministros mais recentes, por sua vez, notabilizaram-se pela obediência servil ao presidente da República. Uma postura levada às últimas consequências por Eduardo Pazuello, o especialista em logística em cuja gestão o país recusou vacinas e brasileiros foram socorridos por oxigênio da Venezuela. 

> “Um manda, o outro obedece”, diz Pazuello ao receber Bolsonaro após crise da vacina

Neste fim de semana, a entrevista do ex-secretário de Comunicação do Palácio do Planalto, Fábio Wajngarten, à revista Veja, deu a letra para que recaia sobre Pazuello a responsabilidade pelos erros do governo federal na gestão da pandemia. Na narrativa de Wajngarten, foi a gestão do general que, por exemplo, se recusou a negociar vacinas – e o presidente Jair Bolsonaro não teve nada a ver com isso.

Pazuello, que passa longe de ser inocente na tragédia brasileira, será o cordeiro imolado para salvar a pele do capitão. “Um manda, o outro obedece” – ele disse quando ainda ocupava o cargo. Um deprimente fim de carreira para um militar que manchou a farda e chegou a ser acusado de ter “ferrado o Exército” pelo ex-comandante Edson Pujol.

O mau exemplo do ex-ministro, usado e descartado, é imitado pela gestão de Marcelo Queiroga. O médico respeitado, que assumiu o Ministério prometendo seguir a ciência e rejeitando a falácia do ‘tratamento precoce’, virou a casaca. Elevado ao posto para acalmar os ânimos do Centrão em meio à crise de popularidade do governo, Queiroga desisitiu de defender o isolamento social e já não acha tão ruim assim a cloroquina

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O desapego do ministro à própria história faz lembrar um texto que recebi outro dia de um amigo, médico também. Dizia que o fanatismo político contaminou setores da sociedade – a medicina, inclusive – porque antecede qualquer outra característica, inclusive a formação profissional. Antes de médico, general ou ministro, o bolsonarista radical é fiel a Bolsonaro. E isso o define.

É em nome da fidelidade ao governo que Queiroga ameaça jogar a carreira pelo ralo com má gestão da pandemia. Pelo seu próprio bem, deveria reparar no exemplo do general Pazuello, cuja cabeça, ao que tudo indica, será servida de bandeija para evitar que o escândalo de uma política de morte recaia sobre o presidente da República.

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