Sai verão, entra verão, os resultados ruins de balneabilidade se repetem nas praias de Santa Catarina e a mesma cobrança volta a reverberar no setor do turismo: a mudança no modelo de coleta e monitoramento praticado pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA).
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A proliferação de placas de “Impróprio” para banho incomoda as empresas que dependem da presença dos turistas nas praias catarinenses – em especial após anos difíceis, de pandemia, em que o faturamento caiu a zero durante um período. A principal queixa é que a coleta das amostras, muitas vezes, ocorre após dias de chuva torrencial, que carrega mais dejetos para o mar e piora a condição de balneabilidade.
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A briga é antiga. Em 2019, depois que os mesmos questionamentos vieram à tona, conversei com o Gerente de laboratório e medições ambientais do IMA, Marlon Daniel da Silva, que explicou que a metodologia para indicar se uma praia está ou mão apropriada para o banho de mar está embasada em uma Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Resgato aqui a explicação que ele trouxe a respeito:
“A resolução diz que, para ter um resultado confiável, são necessárias cinco coletas semanais consecutivas em que não haja mais de 800 escherichia coli para cada 100 mililitros. Para uma praia ser considerada excelente, o valor é de 200. Nós consideramos que existe um número natural de bactérias, por isso o limite é 800. Mas sempre que o ponto tem resultado muito alto, é maior a possibilidade de existir outros agentes patógenos causadores de doenças que são transmitidas pela água. Nosso objetivo não é proibir ninguém de tomar banho, não estamos interditando a praia. Mas estamos informando que o ponto é impróprio e é possível contrair doenças”.
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Sobre as coletas após períodos de chuva, o técnico disse que a mesma discussão se repeta há 30, 40 anos. Mas que a praia fica poluída, na verdade, porque o sistema de escoamento da água da chuva tem resquícios de esgoto.
“Vai depender do que está chegando à praia. Significa que a cobertura de saneamento é precária, que não temos macrodrenagm, que as galerias engolem o sistema de tratamento de esgoto, que não existe condição de enviar para a estação de tratamento, e por isso indicamos que não se use a praia por no mínimo 24 horas, principalmente próximo de desembocaduras de rios e valas”.
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É compreensível que as bandeiras vermelhas nas praias de SC causem uma grande preocupação no setor no turismo. Mas mudar o sistema de coleta vai apenas jogar para debaixo do tapete um problema que é grave, e que já deveria ter sido solucionado há muito tempo no Estado: a falta de saneamento – e, onde ele existe, a falta de dimensionamento da rede de esgoto ao crescimento sazonal da população no verão.
Está na hora do turismo, que corresponde a 12,5% do PIB de Santa Catarina – uma fatia considerável de geração de emprego e renda – cobrar uma solução definitiva para o saneamento no Estado. Temos modelos diferentes de atuação nas cidades do Litoral, o público estadual, com a Casan, o público municipal, por meio de empresas públicas e autarquias, e o privado, por meio de concessões. Todos têm deixado a desejar quando se trata de fornecer o básico em saneamento.
Santa Catarina tem um dos mais bonitos litorais do Brasil, uma ótima estrutura de hospedagem, de entretenimento e lazer. E sabe “vender o peixe”. O potencial é imenso, e traz perspectiva de um ótimo crescimento econômico para o Estado. Mas, para isso, é preciso arrumar a casa.
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