A pressão nas redes sociais, que levou ao cancelamento da participação da jornalista Miriam Leitão e do sociólogo Sérgio Abranches na 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul, não é nova no Estado – e vem ganhando força, num fenômeno impulsionado pela intolerância. Só este ano, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sofreu por duas vezes tentativa de censura contra convidados. Os alvos foram Guilherme Boulos, que concorreu à presidência da República pelo PSOL, e o jornalista Leandro Demori, editor do portal The Intercept Brasil. Nas duas situações, a opção da universidade foi manter a programação.

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Ciente da ameaça de confronto, a medida tomada pela reitoria foi acionar o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para alertar sobre a tentativa de censura. Especialmente no caso de Guilherme Boulos, em que as ameaças foram mais incisivas, segundo o chefe de gabinete da reitoria, Áureo Mafra de Moraes.

— Não se trata de proibir protesto, em contrário. As pessoas podem ficar à vontade. O que não podemos é permitir o conflito e o confronto físico.

Erro não é falta de segurança, mas intolerância

Apesar da pressão, a universidade tem a política de considerar “irreversível” a decisão de realizar quaisquer eventos por ameaças. Moraes diz que se trata de manter a essência da universidade, que é plural.

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— O erro não está na capacidade (da instituição) de ter segurança. Mas no fato de as pessoas ameaçarem o evento. Temos que inverter esta lógica. Essa intolerância impede os que querem evoluir, ouvir vozes diferentes, de terem esse acesso. Esse jogo não pode ser admitido, ou vamos caminhar para a queima de livros – afirma o chefe de gabinete.

Segundo ele, a opção de buscar instituições como o Ministério Público, que tem o poder de resguardar o cumprimento da lei, garante que os responsáveis sejam punidos caso algo saia do controle.

– Foi difícil, custoso, mas não abrimos mão. Se começarmos a admitir que certos eventos não devem ocorrer, de repente até a defesa de um TCC (trabalho de conclusão de curso) estará sobre a mira de quem combate a liberdade de expressão. Abriríamos a universidade para o Olavo de Carvalho, por exemplo, com todas as mesmas garantias. O que nos é caro é o espaço para o exercício da liberdade.