O governador Carlos Moisés (PSL) parecia mais à vontade no cargo do que nunca, algumas semanas atrás. À frente dos anúncios diários sobre o avanço da pandemia do novo coronavírus no Estado, reencontrou a figura do comandante do Corpo de Bombeiros Militar, treinado para emergências. De fala firme na condução da divulgação dos números, vestido com o uniforme da Defesa Civil, Moisés estava seguro. Até que os alicerces começaram a ruir.

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Os problemas iniciaram bem antes das primeiras suspeitas de irregularidades nas compras públicas emergirem. Politicamente inexperiente, sem base no Legislativo, o governo não lidou bem com a pressão do setor econômico diante das medidas de quarentena. No tribunal virtual das redes sociais, o anúncio da retomada súbita, e o imediato recuo na decisão, causaram desagrado tanto entre aqueles que apoiavam as restrições quanto entre aqueles que as criticavam.

A essa altura, Moisés, já enfraquecido, havia sido incluído na lista de governadores atacados pelo presidente Jair Bolsonaro devido às medidas restritivas. O que aprofundou a distância entre o governador de SC e boa parte de seu eleitorado, fiel ao presidente da República.

Foi nesse cenário que estouraram as denúncias em relação às aquisições do governo. Primeiro, sobre o hospital de campanha de Itajaí, que resultou num recuo de contrato até hoje mal explicado. E, por fim, na suspeitíssima compra dos 200 respiradores por R$ 33 milhões, com pagamento adiantado e sem garantias. Uma sucessão de erros.

Moisés aprofundou o buraco onde o governo já se encontrava ao reconhecer, em reunião virtual do Lide, grupo empresarial formado por João Doria (PSDB) em São Paulo, que a compra dos respiradores ocorreu em “modo desespero”. O que não se admite quando o gasto em questão não sai do próprio bolso, mas dos cofres públicos.

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A falta de habilidade política, aliada a suspeitas que envolvem o alto escalão, formaram a “tempestade perfeita” que levou Moisés ao cenário atual, com dois pedidos de impeachment protocolados no mesmo dia, e uma CPI em andamento. Tudo isso, em meio à pandemia que colocou governos de joelhos e países inteiros dentro de casa.

A crise, no entanto, tem um aspecto positivo. Parece ter enfim alertado o governo para a importância do diálogo, fundamental à atividade democrática. Desgastado, tachado de “toma lá da cá”, o exercício da política passa pela conciliação – e o governo parece, enfim, ter compreendido isso. Caso contrário, sobrará a Moisés apagar o rescaldo do incêndio.

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