O Fantástico mostrou no domingo (16) à noite como o mercado imobiliário de Balneário Camboriú e região, que ostenta o metro quadrado mais caro do Brasil, se tornou uma “lavanderia” para o crime organizado, especialmente o tráfico internacional de drogas. O alto preço dos imóveis é um dos principais fatores que atraem interessados em transformar dinheiro sujo em imóveis de luxo.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Itajaí e região direto no WhatsApp

Para o delegado Gustavo Trevisan, chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, a supervalorização imobiliária impulsiona a lavagem de dinheiro no Litoral Norte de Santa Catarina, num ciclo:

– Muito dinheiro circulando, lícito e ilícito, inflaciona o preço dos imóveis. E a alta dos preços incentiva a lavagem. Mas temos ferramentas cada vez mais tecnológicas para descobrir e está cada vez mais fácil identificar esses crimes – diz o delegado.

Vida de luxo de traficantes em SC revela refúgio do crime e lavagem bilionária de dinheiro

Continua depois da publicidade

Em Balneário Camboriú, o metro quadrado médio custa R$ 12 mil, segundo o dado mais recente do índice FipeZap+, de abril. Os apartamentos de luxo da Avenida Atlântica facilmente ultrapassam a casa dos oito dígitos. Para a polícia, o “alto valor agregado”, que atrai investidores de dentro e fora do país, também é um ativo na lavagem de dinheiro.

Fantástico mostra que Balneário Camboriú virou paraíso para os barões do tráfico

É o que faz com que os criminosos prefiram imóveis a veículos, por exemplo – ainda que os carros tenham transações menos “controladas” do ponto de vista legal. Ocorre que, devido ao alto valor envolvido, as negociações de imóveis passam necessariamente pela Receita Federal, e a chance de chamar atenção e ser pego é maior – o que tem se comprovado no grande número de operações de combate à lavagem de dinheiro na região. Apesar disso, a possibilidade de lavar grandes quantidades de uma vez só atrai os criminosos.

Valorização e anonimato: o que leva os chefões do crime a investir em BC

O segundo ponto que incentiva o crime é a volatilidade. A região se tornou o mercado imobiliário mais pujante do país, com um volume de negociações que foge à regra. Os apartamentos de luxo são negociados como ativos de investimento, e os criminosos contam a grande qualidade de negociações para tentarem passar despercebidos – é o que a PF e a Receita tentam combater.

Somente este ano, a Polícia Federal fez sete grandes operações contra lavagem de dinheiro em Balneário Camboriú e região. Quatro eram investigações com origem em Santa Catarina, uma do Rio de Janeiro, uma do Paraná e uma do Rio Grande do Sul.

Continua depois da publicidade

“Balneário Camboriú virou uma lavanderia a céu aberto”, diz delegado de repressão às drogas

Embora o tráfico internacional de drogas corresponda a 90% dos casos de lavagem de dinheiro apurados pela PF na região, não é o único. Há também dinheiro ilegal vindo de desvio de recursos públicos, corrupção e contrabando – e a fama de Balneário Camboriú já ultrapassa os limites nacionais. Nos últimos meses, a PF identificou operações de lavagem de dinheiro por quadrilhas do Paraguai e da Itália.

Como funciona

O esquema, em geral, utiliza “laranjas” e pagamentos parcelados em valores exorbitantes, de R$ 40 mil, R$ 50 mil ao mês – sempre em negociações diretas. Na maioria dos casos, os imóveis não são transferidos de imediato. Permanecem no nome da construtora ou do proprietário anterior até que o preço seja quintado.

Chama atenção da polícia que, ainda que o objetivo inicial da compra seja lavagem de dinheiro, os criminosos gostam de utilizar os bens que adquirem em Santa Catarina. A alta circulação de dinheiro e de artigos de luxo faz com que os criminosos vejam a chance de passarem despercebidos em Balneário Camboriú e região. É comum que a polícia apreenda durante as operações carros superesportvos, iates e coleções de relógios, por exemplo. Todos símbolos de ostentação.