A nomeação do reitor Irineu de Souza pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou a escolha da comunidade acadêmica, em consulta informal, e a do Conselho Universitário, que indicou seu nome em primeiro lugar na lista tríplice enviada ao governo federal. O decreto de Bolsonaro referenda o processo democrático na universidade – mas, até os 45 minutos do segundo tempo, ainda havia dúvidas sobre o caminho que seria escolhido pelo presidente.

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A incerteza veio das estatísticas. Segundo um levantamento da Folha de S. Paulo, Bolsonaro desconsiderou o primeiro nome da lista tríplice em 40% das nomeações que fez para reitores de universidades e institutos federais desde o início do mandato.

Na UFSC, havia receio de que o presidente rejeitasse o professor Irineu pelo apoio que ele tem da esquerda. Embora não seja filiado a nenhum partido e nem faça críticas ao governo, o novo reitor, que tem um discurso bastante voltado à defesa da universidade pública, tem historicamente a adesão da “ala à esquerda” da universidade. 

Sua vice-reitora, a professora Joana Célia dos Passos, tem um perfil mais ativo politicamente e chegou a concorrer a vereadora na Capital em uma candidatura coletiva nas últimas eleições municipais. Feminista, engajada na luta contra o racismo, ela é a primeira mulher negra a assumir o cargo de vice-reitora.

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Se houve uma deliberação nesse sentido, ninguém confirma. Mas o fato é que ao longo dos últimos meses, desde a escolha da chapa na consulta à comunidade acadêmica – e, em seguida, na eleição formal do Conselho Universitário – evitou-se pressionar ou confrontar o presidente da República para referendar a escolha. A busca de apoio foi em direção ao fórum parlamentar de Santa Catarina.

No dia 25 de maio, o Fórum Parlamentar Catarinense recebeu Irineu e Joana. Deputados e senadores se engajaram, então, em uma mobilização para que a democracia interna da UFSC fosse confirmada pelo governo.

Apartidária, a movimentação incluiu nomes e grupos tão ecléticos como o do deputado federal Pedro Uczai (PT), que propôs e aprovou requerimentos na Comissão de Legislação Participativa e na Comissão de Educação da Câmara, do senador Esperidião Amin (PP), cuja assessoria acompanhou o caso até a assinatura do decreto pelo presidente da República, e do deputado Darci de Matos (PSD), presidente do Fórum Parlamentar, que movimentou uma coleta de assinaturas. 

Os três senadores e quase todos os deputados aderiram, da esquerda à direita – incluindo uma parte dos bolsonaristas. Essa adesão foi entendida como um sinal, enviado a Bolsonaro, de que havia apoio da comunidade ao reitor eleito.

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Outro ponto de convencimento do presidente veio antes mesmo da lista tríplice, quando a chapa que perdeu a consulta à comunidade acadêmica não se inscreveu para a eleição no Conselho Universitário e legitimou a vitória do grupo do professor Irineu. Na prática, os três nomes da lista eram da mesma chapa.

A terceira questão a ser levada em conta foram os questionamentos levados à Justiça sobre as eleições da UFSC, que não tiveram respaldo – nem na Justiça Federal em Santa Catarina, nem no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre. Foi mais um ponto a favor da nomeação do reitor. 

Por fim, é preciso olhar para o contexto. A esta altura, com o país em ebulição e a 90 dias de uma eleição difícil, diante de um reitor eleito com apoio do fórum parlamentar, talvez Bolsonaro tenha avaliado que não precisava de mais um conflito. 

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