O governo de Santa Catarina apagou de sua lista de notícias e fotos os registros de um encontro, ocorrido na semana passada, entre a governadora interina Daniela Reinehr e empresários da Lamborghini Latinoamérica – empresa mexicana que tem uma licença de uso da marca, mas não representa a fabricante italiana de carros de luxo e alta performance.
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A assessoria de Daniela informou, nesta sexta-feira (30), que apagou as informações porque os empresários não apresentaram documentação que indicasse continuidade do projeto. Disse, ainda, considerar “normal” e corriqueiro apagar notícias do site e das redes do governo.
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As publicações ‘sumiram’ depois que começaram a circular reportagens anteriores sobre o mexicano Jorge Antonio Fernández Garcia, conhecido como Joan Fercí, e sua inusitada relação com a Lamborghini. O empresário comprou, no início da década de 1990, os direitos da marca na América Latina e a permissão para produzir o modelo Diablo, que não faz mais parte do portfólio da Lamborghini italiana.
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A partir do contrato, a empresa mexicana lançou projetos de modelos novos, que não integram a lista de carros da ‘matriz’ europeia. É o caso do Coatl e do Alar 777, que tiveram cinco unidades produzidas, e do Centurion, que ficou na fase de projeto. O projeto mais recente é L.A Vision, com motor elétrico – esse é um dos carros que poderiam ser produzidos em SC.
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Ocorre que a Volkswagen, que adquiriu a Lamborghini em 1998, questiona o uso da marca por outra empresa – o que levou a uma longa e confusa pendenga judicial. A coluna questionou a montadora italiana, mas não houve resposta até a publicação deste post. Em 2018, uma nota da marca, publicada pelo portal Uol, dizia que a Lamborghini não tem negócios relacionados com entidades na América Latina e que está processando o empresário mexicano.
Já a Lamborghini Latinoamérica informou, em e-mail enviado à coluna, que processou Volkswagen.
“No ano 1998, a empresa Volkswagen AG (Alemanha) e sua filial AUDI, adquiriram a empresa italiana Automobili Lamborghini S.P.A., lamentavelmente desde então, ditas empresas tem exercido atos desleais e diferentes tipos de manifestações monopólicas, alegando mentirosmente (sic) desconhecer os direitos legalmente adquiridos (…). Na Argentina (jurisdição competente segundo os acordos firmados), se realizaram os processos de mediação privada entre AUTOMÓVILES LAMBORGHINI LATINOAMÉRICA, S.A. DE C.V, Automobili Lamborghini S.P.A. e Volkswagen AG, ao não chegar a um acordo entre as partes se forçou a empresa mexicana a se defender e exigir seus direitos através de contendas judiciais iniciadas em 2015”.
O impasse na Justiça, não impediu que, ao longo dos últimos anos, Fercí tratasse com governos no Uruguai, Argentina e Paraguai sobre a instalação de sua fábrica. Nenhuma das conversas evoluiu. Agora, chegou a vez do Brasil.
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Em busca de boas notícias
Ávido por agenda positiva, com boas notícias, o governo do Estado fez “barulho” com informações sobre o encontro de Daniela Reinehr com Fercí na semana passada. O release publicado pelo governo de SC – e depois apagado – apresentou Antonio Fernández Garcia como empresário interessado em montar uma fábrica para produzir Lamborghinis elétricas em Santa Catarina, e também em investir na construção civil.
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Quem abriu as portas do Governo do Estado para o mexicano foi o deputado Milton Hobus, que também aparecia nas fotos do encontro – devidamente apagadas. A assessoria do deputado emitiu nota sobre a intermediação:
“O deputado estadual Milton Hobus esclarece que foi procurado por quatro pessoas que disseram representar a Lamborghini Latinoamérica, entre eles Jorge Antoni Fernández Garcia. Eles pediram uma reunião com o Estado para apresentar uma proposta de possíveis investimentos em SC.
A atuação de Hobus se limitou a marcar uma reunião do grupo com o governo catarinense, como é de praxe nas negociações de empresas que querem se instalar em SC. Por fim, o deputado salienta que teve contato com o grupo somente no dia da conversa com o Estado”.
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Duzentos andares
No encontro com Daniela Reinehr, Fercí estava acompanhado do empresário catarinense Gilson Pierri, de Rio do Sul, que é o comandante da holding de negócios da Lamborghini Latinoamérica no Brasil.
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A representante brasileira da marca tem sede em Rio do Sul e capital reduzido para o volume de negócios proposto: R$ 100 mil. Apesar disso, os planos são ousados. Além da fabricação de carros elétricos, a empresa apresentou ao Estado proposta para construir um condomínio horizontal em Governador Celso Ramos e um megalomaníaco edifício de 200 andares em Balneário Camboriú. A título de comparação, é mais que o dobro do que o Yachthouse by Pininfarina, atualmente o prédio mais alto da América do Sul, que tem 81 andares.
No último fim de semana, depois do encontro com a governadora, os empresários tiveram encontros com prefeitos. Um deles foi com o prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício Oliveira (Podemos).
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Pierri diz que os projetos ainda não foram oficialmente apresentados às prefeituras para aprovação. Mas afirma que a torre proposta para Balneário Camboriú foi projetada na Espanha e é, em suas palavras, a “oitava maravilha do mundo”. Segundo ele, o financiamento virá de recursos da sede da empresa no México e de investidores internacionais.
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A coluna questionou Pierri sobre o governo de SC ter apagado publicações a respeito do encontro na semana passada. Ele respondeu que a empresa foi vítima de calúnias na imprensa brasileira. Afirmou, ainda, que a Lamborghini Latinoamérica não deu sequência às conversas com Santa Catarina porque Daniela é governadora interina, e por isso prefere aguardar o fim do processo de impeachment no Estado. Mas completou dizendo que, diante da suposta resistência de Santa Catarina, a empresa poderá se instalar em São Paulo.
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