Até os mais otimistas governistas enxergaram na operação da última quarta-feira (30), quando foi cumprido um mandado de busca e apreensão na Casa D´Agronômica, uma pá de cal no governo Moisés. Ainda que, até agora, não haja evidências de que o governador esteja envolvido na fraude dos respiradores, a inédita entrada da ordem judicial na residência oficial teve o potencial de implodir o discurso de lisura do governo no pior momento possível – em meio a dois processos de impeachment.

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O mandado coroou uma semana de derrotas judiciais importantes para o governador, incluindo a decisão do STF de não tocar adiante o processo que questionava o rito do impeachment, e que poderia suspendê-lo temporariamente. Um movimento semelhante foi o que deu fôlego – e tempo – ao governador do Amazonas, Wilson Lima, para se salvar do impedimento. Moisés não tem experimentado a mesma sorte.

Nos bastidores, o clima é de fim de festa. Embora se procure dar a aparência de que a máquina continua viva e em pleno funcionamento, muita gente já jogou a toalha. Membros do corpo técnico começaram a disparar currículos em busca de reposicionamento e projetos foram engavetados, na incerteza de quem será o chefe até o fim do mês.

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Deposição de Dilma encorajou ‘onda’ de processos de impeachment contra governadores

Pessoas próximas ao governador, no entanto, dizem que ele acredita em salvação. O que prova que Moisés ainda não adquiriu uma habilidade fundamental para quem quer sobreviver na política: a de ler os cenários.

O governador confia no lastro de uma votação recorde, um patrimônio eleitoral que veio na esteira do bolsonarismo e que não lhe pertence de fato. Esse foi e continua sendo o DNA de seus erros, porque o faz acreditar que está acima do jogo político, em um misto de inocência com uma certa soberba, tão falada pelos deputados. Esse conjunto explica as reações mornas com que Moisés responde às investidas contra o governo. 

Ao esquivar-se do confronto, o governador não consegue impor sua narrativa. Nem mobilizar a base eleitoral que lhe resta em sua defesa. Os catarinenses assistem ao impeachment sem interesse, e isso é sintoma de um governo que não se defende.

Homem de fé, talvez Moisés se sinta confortável na posição de ‘mártir’ da chamada nova política. Só que, sem força para moldar o discurso, corre o risco de ser engolido pela história.

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Vendido

É simbólico que tenha ido a leilão esta semana, em meio ao céu turbulento da política catarinense, a aeronave Embraer, modelo Xingu, que fazia parte da frota do Governo do Estado. A venda dos aviões foi anunciada pelo governador Moisés antes mesmo de assumir o posto, ainda em dezembro de 2018. 

Em viagem

Ocupada em articular as chances e salvação do governador Carlos Moisés na Alesc nas últimas semanas, a líder do governo, deputada Paulinha (PDT), acaba de retomar a agenda de viagens do mandato. As fotos nas redes sociais mostram que está empenhada nas campanhas eleitorais dos candidatos pelo Estado. Ou, talvez, também tenha decidido que não há mais o que fazer para salvar o governo.

Namoro

Um dos efeitos do mandado de busca e apreensão na Casa D´Agronômica foi selar, definitivamente, o fim do ‘namoro’ entre Daniela e Moisés. O ensaio de reaproximação foi por água abaixo com as manifestações públicas da vice, que fez questão de se dissociar do governador e das investigações sobre os respiradores. Isso indica que a defesa de Daniela deve adotar uma estratégia menos sutil para buscar livrá-la do impeachment – e, eventualmente, colocá-la no comando do Estado.

Curtas

– Os 15 dias dados pela juíza Janaína Cassol Machado para defesa na Operação Alcatraz empurra a decisão sobre Julio Garcia para depois que o afastamento de Moisés e Daniela tiver sido votado.

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– Pesará contra Moisés e Daniela No Tribunal de Julgamento o efeito bola de neve: se escaparem do primeiro impeachment, logo em seguida vem outro e o processo começa de novo.

– A PEC que proíbe os pedágios urbanos passou em primeira votação na Alesc. Só que não deve derrubar as TPAs instituídas, como a de Bombinhas, que volta a ser cobrada mês que vem. Com ou sem PEC.

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