A mais nova polêmica protagonizada pelo ministro da educação, Ricardo Vélez Rodríguez — o que diz que brasileiros são "canibais" e roubam toalhas de hotel no exterior — é o pedido para que escolas leiam uma carta com o slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e filmem os alunos cantando o Hino Nacional, para enviar a gravação ao Ministério. Na terra sem lei das redes sociais, a batalha das palavras tem se baseado especialmente na ordem para entoar o Hino como se fazia 30 anos atrás. 

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Quem acha que aí reside a polêmica deveria saber que o "buraco é mais embaixo" — só para usar uma expressão da mesma época em que o Hino era obrigatório. Não há mal algum em ensinar às crianças a letra de Joaquim Osório Duque Estrada e habituá-las desde cedo aos acordes retumbantes de Francisco Manuel da Silva. 

Não se pode, no entanto, usar slogan de campanha no ambiente escolar, sob o risco de confrontar um princípio tão necessário aos governos: o da impessoalidade. Uma vez eleito, o político em cargo executivo não serve mais apenas aos seus, mas a todos. Ao menos, deveria ser assim.

Filmar crianças sem autorização expressa dos responsáveis (e para usar não se sabe de que forma) é outro problema. Fere o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e isso o ministro da Educação deveria saber muito bem.

Por fim, convenhamos que patriotismo não se impõe. Palavras repetidas não trazem orgulho pátrio. Mas a valorização da cultura, o empoderamento popular, sim. Bons indicadores educacionais, acesso à universidade, ensino de qualidade, também. 

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Este é o desafio. E requer investimento, algo que não teremos na educação pelos próximos 40 anos (lembra do congelamento aprovado pelo Congresso?). Cantar o Hino Nacional parece uma "solução" simples demais. Coisa de quem resume os brasileiros a canibais.