A ‘celebração de vitória’ de Jair Bolsonaro em resposta a um seguidor nas redes sociais, diante da morte de um voluntário dos testes da Coronavac – suicídio, como veio a público depois – é o retrato lamentável de um governante que parece estar mais preocupado com a reeleição, daqui a dois anos, do que com a saúde e a vida da população que ele representa.

Continua depois da publicidade

> Anvisa interrompe estudos clínicos da vacina Coronavac

> Morte de voluntário da Coronavac ocorreu por suicídio, diz laudo

A interrupção dos testes de um imunizante, por qualquer motivação, é justificada e esperada. A politização da vacina, não é. A leviandade do presidente levou à divulgação desnecessária de uma morte trágica, um doloroso drama privado que foi exposto para o Brasil e o mundo.

> Anderson: Bolsonaro usa a vacina e a vida dos brasileiros para fazer política

Continua depois da publicidade

Com suas cutucadas, o governador de São Paulo, João Doria, tem seu papel nessa ‘briga de foices’ que se tornou a vacinação contra Covid-19 no Brasil. Bolsonaro, que vive para o confronto, responde. E leva junto o Brasil, ladeira abaixo.

Ocorre que o estrago que o presidente da República tem provocado não se limita a suscitar desconfiança sobre uma eventual aprovação da Coronavac – que ainda está em fase de testes, como todas as outras vacinas, e pode nem vingar.

> Santa Catarina pode testar vacina contra coronavírus desenvolvida na Itália

Primeiro, porque o discurso de que ‘ninguém pode ser obrigado’ a tomar vacina e a exposição de efeitos colaterais aleatórios minam a confiança do brasileiro no amplo programa de imunização pública e gratuita, que é um dos patrimônios do nosso Sistema Único de Saúde (SUS). O risco é reduzir a adesão a outras vacinas, igualmente importantes – e que são obrigatórias no Brasil. O presidente coloca em xeque o pacto de saúde coletiva que faz com que a imunização funcione.

Segundo, porque coloca uma interrogação sobre a lisura do trabalho de instituições respeitadas como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que se viu envolvida em suspeitas de uso político e aparelhamento em meio a esse episódio. Ninguém sai ganhando com isso, especialmente o órgão federal.

Continua depois da publicidade

> Vacina da Pfizer contra Covid-19 é 90% eficaz, apontam resultados da fase 3

Com centenas de milhares de vidas perdidas, e uma crise econômica que varre empresas e empregos, qualquer chefe de estado respirará aliviado quando a ciência entregar ao mundo uma vacina contra a Covid-19 que funcione. Menos Jair Bolsonaro, para quem a vacina deve servir a seus objetivos políticos.

Se as instituições falharam em impor parâmetros de decência ao presidente da República na condução da pandemia, ele precisa saber quais são os limites da ética.

Participe do meu canal do Telegram e receba tudo o que sai aqui no blog. É só procurar por Dagmara Spautz – NSC Total ou acessar o link: https://t.me/dagmaraspautz​​