O presidente Jair Bolsonaro atingiu um ponto sensível ao dizer que Sérgio Moro concordaria com a troca de comando – e o aparelhamento – da Polícia Federal depois que fosse indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro. A afirmação procura levantar dúvida sobre os interesses que teria o ex-ministro da Justiça em fazer as acusações que fez contra o presidente da República, no momento em que anunciou que deixaria o cargo.
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Foi o ponto alto da narrativa de desconstrução de mais uma “estrela” do governo. Assunto no qual Bolsonaro tem trabalhado com especial atenção nas últimas semanas.
Bolsonaro ataca Moro, nega interferência na PF e diz que ex-ministro cobrou vaga no STF
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Provocado, o presidente segue o roteiro dos maiores críticos de Moro, que enxergaram, desde que ele aceitou o cargo no governo, um indicativo de que o ex-ministro tinha interesses maiores. Era, de fato, uma simbiose esquisita – Bolsonaro precisou de Moro para dar verniz anticorrupção ao governo. Moro, àquela altura, tinha status de “herói nacional”. Não precisava do presidente.
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O silêncio do ex-juiz federal diante dos episódios mais polêmicos que envolveram o governo o colocaram, para os críticos, na posição de alguém que engolia sapos para alcançar objetivos. Esta tarde, entre elucubrações sobre táxis e piscinas, o presidente buscou a mesma narrativa para tentar desmontar o mito de Sérgio Moro.
O discurso de Bolsonaro mal havia terminado quando o ex-ministro foi às redes sociais para contra-atacar: “A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF”, afirmou.
Alçado a pivô da ruptura entre o presidente e seu ministro-estrela, será justamente o STF o palco da batalha final de versões. O procurador-Geral da República, Augusto Aras, enviou ao Supremo um pedido de abertura de inquérito para investigar as falas de Sérgio Moro contra Bolsonaro. Pede também que a apuração indique se o ex-ministro cometeu denunciação caluniosa ao jogar as acusações no ventilador.
Se o inquérito for autorizado – e ouso dizer que há poucas chances de que seja negado – a verdade vai aparecer.
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Até lá, Sérgio Moro está em vantagem. Ao apontar e atirar primeiro, para usar uma metáfora bolsonarista, o ex-juiz conseguiu subverter a ordem do estilo do governo de fritar ministros para então despachá-los, como o presidente fez na semana passada com Luiz Henrique Mandetta. O discurso vitimista de Bolsonaro indica que o tom do pronunciamento do ex-ministro da Justiça pesou.
Diante desse fogo cruzado, vale lembrar que ainda estamos no meio de uma pandemia. E que estamos (ou deveríamos estar) sob medidas de isolamento social – que Bolsonaro escolheu negar. Ao insistir em usar uma máscara, na coletiva mais importante do governo, podemos deduzir quem será a próxima vítima: o posto Ipiranga Paulo Guedes.
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