No mesmo dia em o Brasil chegou a 2.915 casos confirmados de coronavírus, e 77 mortos, o presidente da República, Jair Bolsonaro, usou as redes sociais para compartilhar imagens da carreata em apoio ao fim do isolamento social em Balneário Camboriú, que também “comemorou” o anúncio do governo de Santa Catarina sobre a retomada gradativa da economia, que resultará no afrouxamento das medidas de quarentena a partir da semana que vem. Em meio ao caos, o presidente prega a desobediência civil.

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“Balneário Camboriú/SC. O povo quer trabalhar”, escreveu.

Santa Catarina tampouco tinha boas notícias a compartilhar. O anúncio da reabertura do comércio veio logo após a confirmação da primeira morte no Estado, onde a contagem de casos já chegou a 149. Pressionado pela sombra do agravamento da crise econômica, e sob a expectativa de que as duas semanas de confinamento total tenham dado resultado para achatar a curva de transmissão, o governador Carlos Moisés lançou o plano com um aviso: se puder, continue em casa.

Milhares de pessoas morrem no mundo, todos os dias, acometidas pela covid-19. Outras milhares, de todas as idades, vão parar nas emergências dos hospitais. Muitas vezes, em estado grave. Líderes como a alemã Angela Merkel compararam o desafio de superar o coronavírus ao da 2ª Guerra Mundial, que deixou um rastro de destruição, morte e fome.

É chocante que pessoas vão às ruas, nesse contexto, comemorar o que quer que seja. Ou defender medidas que contrariam a ciência, os especialistas. E é estarrecedor que falte empatia e noção de gravidade a quem deveria comandar o Brasil.

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Horas antes de compartilhar a carreata irresponsável de Balneário Camboriú, Bolsonaro disse que o coronavírus não fará tantas vítimas no Brasil porque o brasileiro mergulha em esgoto, e não acontece nada com ele. Um presidente que fala isso do próprio povo, senhores, não se importa. Simplesmente não se importa.

Ao jogar no colo da imprensa e dos governadores o agravamento da crise econômica, Bolsonaro deixou os estados em uma saia-justa. As frases inacreditáveis que o presidente profere, publicamente, servem como cortina de fumaça para o fato de que o governo federal não cumpriu o papel que lhe cabe numa crise dessa envergadura.

Enquanto outros países assumiram parte dos pagamentos dos assalariados que ficaram em casa, desonerando os empregadores, e garantiram uma renda mínima decente para os trabalhadores autônomos, nós nos aproximamos do olho do furacão com medidas econômicas desidratadas. Há setores, como o do turismo, que foram completamente esquecidos. Na Europa, ganharam linhas de crédito específicas para a recuperação.

A conta sobrou para os estados que, sem a possibilidade de dar uma resposta econômica aos empregadores, se veem no limite entre manter o isolamento domiciliar total, protegendo as pessoas da contaminação, e o risco de um colapso econômico. Só resta apelar para a responsabilidade individual, como fez Moisés em SC.

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Sem medidas concretas de enfrentamento, Bolsonaro usa a estratégia de “agitar” para fugir à responsabilidade. Como um adolescente que não estudou para a prova, e tenta cancelar o dia de aula. A diferença é que, sob a liderança dele, estão as vidas de 200 milhões de brasileiros.

Sinceramente, ele não se importa.

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