O “cala a boca” do presidente Jair Bolsonaro aos jornalistas que cobrem sua dose diária de impropérios em frente ao Palácio do Planalto expôs, possivelmente, mais do que ele gostaria. Adepto de um linguajar rasteiro, que os admiradores confundem com autenticidade, o presidente da República traduziu perfeitamente os ataques que vem fazendo à imprensa desde que se elegeu.
Continua depois da publicidade
Em janeiro, um relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) mostrou que partiram de Bolsonaro mais da metade dos ataques a profissionais de imprensa no Brasil durante o ano de 2019. A metralhadora giratória de insultos vai desde agressões verbais a repórteres, comentaristas e veículos de comunicação, até a sistemática política de desacreditar a imprensa.
O "cala a boca" ocorre dois dias após apoiadores do presidente terem agredido fisicamente jornalistas do Estadão que cobriam uma manifestação antidemocrática – que, aliás, teve a participação do próprio Bolsonaro. Diversas instituições vieram a público pedindo que os agressores sejam identificados, e condenaram o ataque como um grave atentado à liberdade de imprensa e à democracia.
Os atos de Bolsonaro são um estímulo às reações hostis. Por vezes, o ocupante da cadeira presidencial ataca verbalmente os jornalistas para se esquivar da publicidade dos atos de governo. Em outras, usa as agressões como uma cortina de fumaça – artifício sempre à mão para despistar assuntos sobre os quais não quer falar.
Ocorre que, quando ataca a imprensa, o presidente também ataca o direito dos brasileiros à informação. É o sonho de um governante com desejos autoritários ser a única fonte de informação de seu povo. Sem análise, sem contexto, sem questionamentos.
Continua depois da publicidade
>> Bolsonaro atribui agressão a jornalistas a "algum maluco" infiltrado
Não por acaso, à direita ou à esquerda nenhuma ditadura na história abriu mão do controle da imprensa. O bom jornalismo é um dos pilares da democracia porque prevê espaço para as vozes dissonantes. É, por excelência, um lugar de exercício da liberdade democrática.
Ao expor os repórteres à humilhação diária por seu séquito de bajuladores em Brasília, o presidente da República tenta desacreditar a imprensa e, com alguma sorte, fazer com que desista de cobrir seus atos de perto. Não conseguirá.
Se há algo que a prática diária do Jornalismo (com letra maiúscula) exige é paixão e coragem. Todo jornalista já passou horas em pé aguardando uma entrevista. Já levou dias chafurdando documentos. Já teve que conter a emoção ao cobrir tragédias. E, principalmente, já foi atacado pelos poderosos. São ossos do ofício.
Goste o presidente ou não, o compromisso do jornalismo é com a sociedade e a informação, e seguiremos aqui. Não vão nos calar.
Participe do meu canal do Telegram e receba tudo o que sai aqui no blog. É só procurar por Dagmara Spautz – NSC Total ou acessar o link: https://t.me/dagmaraspautz
Continua depois da publicidade