O Brasil acendeu o sinal de alerta no mundo para o potencial de estrago das novas variantes do coronavírus ao enfrentar um colapso simultâneo do sistema de saúde, em quase todo o território nacional. O cenário era alertado pelos cientistas desde o início da pandemia, como resultado de um modelo de gestão que priorizou minimizar a doença para fugir dos desgastes – e que, politicamente, vinha funcionando muito bem. Até a vacina.

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Pesquisa do Ipec, divulgada pelo O Globo no início do mês, apontou que Jair Bolsonaro teve pela primeira vez desde a posse um índice de aprovação abaixo de 30%. A vacinação contra a Covid-19 é o ponto de inflexão numa trajetória bem sucedida do presidente, que manteve a aprovação em alta durante todo o ano de 2020 – com direito a uma turbinada dos números durante o período de pagamento do auxílio emergencial.

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O coronavírus encontrou o Brasil com dificuldades econômicas. Apesar das previsões do ministro Paulo Guedes, que já viraram folclore, o fato é que o país patinava numa velha conhecida crise quando a Covid-19 assolou o planeta. Jair Bolsonaro previu que o tsunami que se aproximava seria devastador para a economia do país. E, consequentemente, para seu projeto de reeleição.

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A narrativa negacionista do presidente da República está calcada em sua sobrevivência política. Ao longo de um ano de pandemia no Brasil, Bolsonaro procurou desprezar os riscos para que a economia não parasse. Demitiu os ministros de Saúde mais alinhados à ciência e os substituiu por um general com alma de subordinado, um cumpridor de ordens.

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Cada movimento do governo foi calculado para afastar do presidente da República a responsabilidade pelas consequências econômicas de uma crise sanitária sem precedentes. Há método na negação de cuidados básicos, como o uso de máscaras, e na aposta em medicamentos ‘milagrosos’ que não têm efeito. Assim como há método na responsabilização dos governadores e prefeitos pelas decisões mais duras de combate à pandemia. É a terceirização do desgaste.

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O coronavírus afastou das ruas o grupo dos descontentes, enquanto a competência de Bolsonaro em impor suas versões aos seguidores garantiu que o presidente passasse incólume pelo primeiro ano de pandemia. O namoro com o Centrão, transformado em casamento, rendeu vitória nas eleições do Congresso e o presidente nadava ‘de braçada’. Só que 2021 trouxe as novas variantes, o colapso do sistema de saúde e a vacina, para a qual o Brasil não se preparou.

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A queda dos índices de popularidade indicam que o mesmo país que embarcou na narrativa do presidente parece, agora, se incomodar com a vacinação a conta-gotas, enquanto as mortes não param de crescer. O Palácio do Planalto entendeu o recado – tanto, que tem feito reiterados anúncios sobre a negociação de vacinas e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, procura descartar a hipótese de que estados e municípios adquiram doses por conta própria. Já está claro que a vacina funciona. E Bolsonaro precisa dela se quiser chegar imune a 2022.

Auxílio emergencial

Para além da vacina, a concessão de um novo auxílio emergencial – ainda que desidratado em relação às primeiras parcelas – pode mexer com os índices de aprovação do presidente Bolsonaro. Funcionou em 2020, quando a taxa subiu entre pessoas com renda de até dois salários mínimos, que foram diretamente atingidas pelo benefício.

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Fator Lula

A decisão do ministro Edson Fachin de anular os julgamentos do ex-presidente Lula na Justiça Federal em Curitiba embaralhou as peças da corrida eleitoral em 2022. No primeiro discurso que fez após torna-se de novo elegível, Lula marcou posição como antítese de Bolsonaro. Estavam presentes os acenos à base popular, aos evangélicos, aos militares e aos policiais. O ex-presidente enviou seus recados aos grupos que sustentam o bolsonarismo.

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Camaleão

O discurso brando de Lula, talvez mais ameno do que o previsto, também foi um sinal de que ele está aberto à conversa. Camaleão político, o ex-presidente caminhou para o Centro para se eleger em 2002. Parece estar disposto a repetir a dose.

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Polarização

As análises sobre quem ganha e quem perde, com o retorno de Lula, são controversas. É fato que Bolsonaro se beneficia da polarização, e gostaria de um segundo turno contra o PT para fincar o discurso no antipetismo. Mas Lula, embora carregue o peso dos processos que continuarão a correr na Justiça Federal, que seguirão alimentando o antipetismo, tem uma capacidade semelhante à do presidente para capilarizar sua mensagem – o que sobe o tom da disputa eleitoral. 

Sem vácuo

A máxima de que não há vácuo de poder segue firme. O antagonismo entre o presidente Bolsonaro e os governadores, que ele elegeu como primeiros ‘culpados’ pela crise, tem sido um celeiro de possíveis candidatos à presidência da República. Especialmente para a chamada ‘terceira via’. O governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), é um dos que estão de olho na disputa.

Redes sociais

Em meio a pandemia e impeachment, o governador Carlos Moisés chegou a perder 18 mil seguidores nas redes sociais. Mas recuperou a popularidade nas redes e, na última semana, bateu recorde com 195 mil seguidores no Instagram. A gestão da comunicação digital do Governador é do consultor Maurício Locks, que já atuou em Brasília com o Senador Jorginho Mello e com o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro.

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