Um mês e meio antes do primeiro turno, as pesquisas qualitativas da campanha do governador Carlos Moisés apontaram que mais de 50% dos eleitores de SC só votariam em candidatos claramente identificados com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Era um sinal de que não haveria chance para quem estivesse no meio do caminho, e a orientação da coordenação foi “bolsonarizar”.
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Moisés não quis. Seria uma guinada de discurso para o governador que, embora tenha feito acenos ao bolsonarismo desde o início da campanha – como estrear no programa eleitoral atirando com uma pistola – procurava manter-se ao centro, numa postura mais condizente com a maneira como conduziu o governo e que o afastou do presidente da República. O que lhe custou um preço alto.
“Achem outro candidato”, ouviram os assessores mais próximos do governador sobre a ideia da guinada.
O episódio, relatado nos bastidores, é uma amostra de como que Moisés decidiu guiar a campanha por suas convicções – e escolheu o caminho que, no dia 2 de outubro, o levou a perder lugar no segundo turno. Fontes mais próximas do governador refutam a ideia de que ele cometeu erros estratégicos na campanha. A leitura é de que ele fez uma escolha consciente.
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No domingo, antes da totalização dos resultados, quando os números já mostravam ser irreversíveis, Moisés fez um discurso para os aliados que acompanharam a apuração com ele nos fundos da Casa D´Agronômica. Falou sobre democracia e sobre a importância de respeitar a escolha do eleitor. Mas não deixou de acentuar aquilo que todos ali sabiam que eram sua marca: a obsessão por fazer as coisas do seu jeito. Uma maneira peculiar de lidar com a política – e que muitas vezes foi contornada pela sorte.
As escolhas pouco óbvias permearam todo o processo eleitoral. Enquanto todos ao seu redor indicavam que deveria optar por uma legenda de peso, Carlos Moisés escolheu sozinho o Republicanos. O PSD foi ofertado para seu vice, com Eron Giordani – mas o governador rejeitou o prato pronto. Tampouco aceitou Antídio Lunelli, que acabou a disputa eleitoral como o deputado mais votado do MDB. Na reta final, escolheu o empresário Udo Döhler e seu perfil reservado, idêntico ao de Moisés.
Na campanha, contrariando as recomendações, usou a bandeira de Santa Catarina e a cor vermelha, evitada pelos bolsonaristas. Carlos Moisés escolheu o caminho mais difícil. No resultado final, Jorginho Mello (PL) ganhou o espaço que, lá atrás, o governador não quis ocupar.