Eis o nível de politização da pandemia no Brasil: o grande questionamento acerca da aprovação de uso emergencial das vacinas pela Anvisa no momento não é a transparência das informações prestadas pelos pesquisadores, mas se o órgão de Estado vai autorizar a Coronavac no domingo caso o governo não tenha à disposição as doses da AstraZeneca para aplicar primeiro. Justo a respeitadíssima Anvisa, sobre a qual esse tipo de questionamento seria quase impensável tempos atrás.

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Desde outubro, quando o início da vacinação começou a ficar mais palpável, o governo federal sabotou as possibilidades de acordo que agilizariam a distribuição de doses no Brasil. Não apenas com a Coronavac, afetada pela ridícula briga política com o governo de São Paulo, mas também desprezou o contato inicial de outros laboratórios, como o da Pfizer, que deu o pontapé inicial na imunização no planeta.

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Ainda estamos sem vacinas porque o projeto político do presidente da República parece se beneficiar da situação calamitosa em que está o Brasil, com a polarização no ápice. Como complemento, o posicionamento anticiência, antivacinas, do governo brasileiro, empurrou o país para o fim da fila da imunização. Logo o Brasil, que já foi exemplo para o mundo quando se fala em vacinação em massa para um país continental.

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Poderíamos ter uma vacina brasileira. Mas o governo cortou sistematicamente o financiamento para a ciência no país, que se dá especialmente dentro das universidades públicas, tão desprezadas. Temos projetos em andamento, inclusive aqui em SC, na UFSC, e teríamos plenas condições de oferecer uma vacina 100% nacional a tempo se houvesse interesse genuíno do governo federal.

Estamos atrasados, perdidos e de joelhos, pedindo socorro para outros países. Hoje, 16 de janeiro, são mais de 50 nações no mundo vacinando e salvando vidas. Isso é doloroso quando nós pensamos que estamos vivendo, aqui no Brasil, as cenas mais tristes desde o início da pandemia, com pessoas morrendo sufocadas por falta de oxigênio.

Essa falta de insumos é resultado de incompetência dos governos, em diferentes níveis de poder. Mas também é resultado dessa política de esticar a corda do sistema de saúde até o limite. De não dar ouvidos ao que diz à ciência, que já cansou de alertar que é preciso conter a circulação do vírus. É negligência, é omissão de quem é pago para tomar decisões e para governar para o povo brasileiro.

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Na sexta-feira à noite houve protestos, panelaços, inclusive em Santa Catarina, porque a politização da pandemia ultrapassou todos os limites. Não é aceitável que pessoas morram sem ar para uma doença para a qual existe vacina. O governo tem a chance de mostrar que se importa com os brasileiros e fazer valer o início da vacinação. É o que todos nós estamos esperando.

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