Balneário Camboriú: praia dos arranha-céus é a “meca” dos evangélicos e paraíso bolsonarista

Conhecida pelos arranha-céus à beira-mar, Balneário Camboriú é também uma “meca” do movimento evangélico, com perdão ao trocadilho. É a vocação para o turismo religioso que trará neste sábado (24) a Balneário Camboriú o presidente Jair Bolsonaro, que participará da Marcha para Jesus ao lado de Michele Bolsonaro.

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O evento é organizado pelo Conselho dos Pastores de Santa Catarina, e integra o calendário oficial do município. A presença de Bolsonaro infla as expectativas de público – a organização fala em cerca de 50 mil pessoas na caminhada. Nesta sexta-feira (23), há movimentação de turistas que vieram de outras cidades do Estado para o evento.

Receber movimentação turística para eventos evangélicos não é novidade em Balneário Camboriú. Ao longo de décadas, a cidade tem sido parada obrigatória para milhares de turistas que visitam anualmente o encontro dos Gideões Missionários da Última Hora, em Camboriú, ligado à Assembleia de Deus – evento que teve presença de Bolsonaro em 2019.

Mas foi o crescimento de outro movimento que tornou Balneário Camboriú famosa no circuito evangélico, o das igrejas neopentecostais. Enquanto os turistas vão à cidade à procura de sol, mar e algumas das baladas mais famosas do país, uma parte dos moradores fixos fez o caminho inverso, em direção às igrejas. O número de adeptos cresceu a ponto de a cidade ter sido berço de pelo menos duas novas igrejas expressivas na cena evangélica local, Luz da Vida e Embaixada do Reino de Deus, ambas com grande influência social e política.

O prefeito Fabrício Oliveira (Podemos) e o vereador Omar Tomalih (Podemos), ex-presidente da Câmara, são ligados à Embaixada do Reino de Deus. A Luz da Vida é representada no Legislativo pelo vereador Kaká Fernandes (Podemos). Pelo menos mais quatro parlamentares se identificam como evangélicos, de diferentes igrejas – ao todo são seis, entre 19 vereadores.

Além da política, alguns dos pastores frequentam a alta sociedade de Balneário Camboriú e convivem no meio empresarial. As igrejas também controlam duas rádios locais.

Embora haja espaço para divergência política, uma fonte ligada às igrejas evangélicas de Balneário Camboriú garante que 90% dos frequentadores das igrejas locais são eleitores do presidente Jair Bolsonaro. Entendem que ele seguiu carregando o lema “Deus, pátria e família”, e que os desvios de discurso ocorrem porque “é presidente, não pastor”.

A passagem de Bolsonaro por Balneário Camboriú é providencial em um momento em que as pesquisas indicam que o presidente tem dificuldade para ir além do núcleo duro de apoiadores, enquanto o ex-presidente Lula (PT) consolida uma vantagem expressiva, que pode levá-lo a vencer no primeiro turno. Além do aceno ao público evangélico, Bolsonaro deverá reunir na Praia Central imagens de uma multidão de apoiadores – algo fundamental para um presidente que depende do engajamento do eleitorado.

Guinada à direita

O curioso sobre Balneário Camboriú é que a cidade nem sempre se identificou com o conservadorismo evangélico. Em seus primeiros anos de fundação, era o destino de férias favorito do ex-presidente João Goulart, que foi deposto pela ditadura militar. Uma estátua dele com os filhos, na Avenida Atlântica, lembra os tempos em que a cidade era a “praia do presidente”. A maior escola estadual do município leva o nome de João Goulart.

O primeiro prefeito de Balneário, Higino Pio, era do partido de oposição à ditadura e foi morto pelos militares na Escola de Aprendizes Marinheiros, em Florianópolis, quando ainda estava no cargo. Uma das hipóteses levantadas para seu assassinato era sua amizade de longa data com Jango.

Balneário Camboriú já foi governada pelo PDT, e teve um vice-prefeito petista. Na década de 1990, Leonel Brizola inaugurou uma escola na cidade.

Fontes ligadas à esquerda avaliam que características como o grande número de moradores que vêm de fora, sem intenção de engajamento no cotidiano da cidade, interditam os espaços de organização tradicional da esquerda, ligada aos movimentos sociais. Isso favorece outro tipo de agrupamento, por grupos sociais e religiosos.

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