Por mais de dois meses, os versos do colombiano Jesus Espicasa se calaram. Poeta de rua, viajante, ele foi acolhido pela Casa de Passagem de Balneário Camboriú depois de ter passado por um longo período de internação em um hospital de Florianópolis. Sem memórias e sem documentos.
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Jesus recobrou as lembranças e o talento para a poesia, que o fez conhecido em sua terra natal. Agora, começou a jornada de volta para casa. Está em São Paulo, refazendo os documentos necessário para a viagem.
A vida do poeta, nos últimos meses, é permeada por interrogações. Ele lembra de ter montado uma barraca em uma praia, em Penha, e de ter sido agredido antes da internação. A assistência social de Balneário Camboriú diz que seus registros mostram que foi internado como desconhecido.
Jesus estava viajando pela América Latina, com uma mochila nas costas. Que também desapareceu. Passou pelo México, Bolívia, Peru, Equador, Argentina e Uruguai, antes de chegar ao do Brasil. Queria escrever sobre o povo latino.
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"Traficante de poemas"
Meses antes de sair para o mundo, Jesus Espicasa tornou-se famoso na Colômbia por um episódio que levantou uma discussão nacional. Ele circulava pelas ruas de Usaquén com uma antiga máquina de escrever a tiracolo. Escrevia seus versos e os vendia. Em março deste ano, policiais recolheram seu material de trabalho e o levam ao Comando de Acción Inmediata (CAI), o equivalente colombiano às nossas delegacias.
Jesus foi enquadrado no artigo mais grave do chamado Código de Polícia, que regulamenta atividades como a dos artistas de rua. Recebeu uma multa de 833 mil pesos, que equivalem a quase 300 dólares.
A história foi contada pelo escritor colombiano William Ospina, em sua coluna no El Espectador – um site famoso no país. Ospina chamou atenção para a descrição do delito: questionado sobre o motivo para a apreensão do material de trabalho de Jesus, um policial teria dito que era um “traficante de poemas”.
Em pouco tempo, a história ficou conhecida em toda a Colômbia. Imprensa e políticos passaram a discutir os limites de atuação da polícia em casos como esse. Jesus Espicasa foi chamado a rádios, programas de televisão. E suas poesias viajaram pelo país.
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Fotos e vídeos de seus dias de fama mostram uma vida muito diferente da que Jesus teve em Balneário Camboriú, onde esperou, nas últimas semanas, a chance de voltar para casa. Na Casa de Passagem, folheava um ou outro livro, sem se deter. Gosta mesmo é de ler García Márquez e Pablo Neruda, na língua natal.
Viagem de volta
Jesus diz que é hora de voltar. A Secretaria de Assistência Social fez contato com a Embaixada da Colômbia no Brasil, e com a família do poeta. Para reaver os documentos, que desapareceram – inclusive o passaporte – ele precisava estar em São Paulo.
O problema é que os centros públicos de apoio na capital paulista oferecem apenas local para dormir, que não é fixo. Consegue lugar quem chega primeiro, noite após noite.
A assistência social de Balneário Camboriú relutou em deixá-lo partir sem moradia fixa. Mas cedeu à sua vontade. Pagou a passagem de ônibus e o viu partir.
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Nos últimos dias, Jesus deu notícias. Telefonou e avisou que está bem, aguardando a documentação ficar pronta.
Jesus Espicasa espera por um final feliz. Um dia, diz, tudo o que viveu nos últimos meses vai virar arte. Em forma de poesia.
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