O tiro disparado contra o ex-presidente Donald Trump na Pensilvânia, no sábado (13), tira dos democratas, seus adversários, a principal arma que tinham contra o ex-presidente: as acusações de que o republicano, com sua verborragia, incita a violência política no país.

Continua depois da publicidade

Entre na comunidade exclusiva de colunistas do NSC Total

Ainda que as informações das autoridades deem conta de que o atirador era um republicano, o ônus do atentado recaiu sobre os democratas. Políticos e apoiadores de Trump correram às redes sociais para acusar os adversários de estimularem o silenciamento do candidato republicano.

Donald Trump, mentor e líder da extrema direita global, foi alçado a mártir. As imagens do rosto ensanguentado do ex-presidente republicano se espalharam desde o ataque. Menos de 24 depois, já estampam camisetas vendidas na internet.

O que se sabe sobre o ataque a Donald Trump durante comício no EUA

Continua depois da publicidade

A esta altura, Biden está com as mãos amarradas. Como atacar a vítima de um atentado político? Ao menos nas próximas semanas, o presidente precisará segurar a artilharia contra o adversário.

Biden acusa Trump de ser um risco à democracia. Mas pesquisadores e jornalistas americanos com quem conversei, no início deste ano, avaliam que o norte-americano médio não tem a mesma percepção que o brasileiro sobre risco à democracia. Há alguns motivos para isso. Primeiro, porque os EUA não têm histórico de golpes de Estado e ditaduras, como tivemos no Brasil. Segundo, porque os Estados Unidos são um país autocentrado, que se importa pouco com o que está fora de sua zona de interesse. A derrocada democrática no Brasil, por exemplo, pouco repercutiu por lá.

Biden, Kamala e Obama: O que dizem lideranças mundiais sobre ataque a Trump

O cenário já era suficientemente ruim para os democratas até sábado. A aparente senilidade de Joe Biden era o assunto da campanha, reforçado pelo desempenho desastroso no debate há duas semanas, e pelos episódios que se seguiram. Na última semana, em sua primeira entrevista coletiva desde novembro, Biden chamou Volodymir Zelensky de Vladimir Putin e chamou sua vice, Kamala Harris, de Trump.

Disfarçando as evidências, Biden resiste à ideia de desistir da disputa e se autodenomina a única opção para enfrentar Trump nas urnas – ainda que uma projeção com Kamala candidata, antes do atentado, tenho colocado os democratas 10 pontos à frente do republicano na intenção de votos.

Continua depois da publicidade

Assim como Bolsonaro em 2018, Trump terá favoritismo turbinado após atentado

O fato é que uma parte importante da sociedade norte-americana andava desinteressada pela disputa à presidência. Via uma corrida entre dos velhos decrépitos que, uma vez eleitos, não cumpriram o que prometeram. O atentado pode recuperar o apetite desses eleitores em potencial pela campanha.

É nesse contexto que o gesto de Trump ao deixar o palco onde discursava, após ter sido atingido, levantando o punho, ficará marcado como um contraponto à fragilidade de Biden. Alçado a mártir, Trump se torna um obstáculo quase intransponível para os democratas. A última saída para Biden é criar um novo fato. E isso passa pelo gesto que ele está pouco disposto a fazer.

Leia também

Biden, Kamala e Obama: O que dizem lideranças mundiais sobre ataque a Trump

Lula lamenta ataque a Trump: “Inaceitável”

“Maior líder mundial do momento”: ex-presidente Bolsonaro comenta ataque a Trump