Depois da cena em si, grotesca, o que impressiona no caso de assédio sofrido pela vereadora Carla Ayres em uma sessão da Câmara de Vereadores de Florianópolis na noite de quarta-feira é que nenhum outro parlamentar tenha se manifestado imediatamente, na tribuna, pra repudiar o que aparece nas imagens.

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Conversei com a vereadora Carla Ayres ainda na manhã desta quinta, e ela me disse que o vereador Bericó falou, fora do microfone, algo como um “sem noção” para Marquinhos. Mas os demais estavam concentrados na votação e aparentemente não perceberam o que aconteceu. Mais tarde, depois da sessão, ela recebeu telefonemas de solidariedade dos colegas do Legislativo. Sentiu-se acolhida, o que é importante em situações como essa.

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Mas é impressionante que ninguém se manifeste imediatamente quando uma mulher sofre um ato de desrespeito, de violência. Porque foi isso o que mostraram as imagens. Sempre há quem procure relativizar o fato dizendo ter se tratado de uma brincadeira, de um carinho. Não é. O corpo de uma mulher não está disponível para ser agarrado e beijado à força. Isso é violência. Isso é assédio.

O que vimos na Câmara de Vereadores da Capital, e que repercutiu em todo o país, envolveu dois parlamentares que estão em igualdade de posições e foi transmitido ao vivo, em tempo real. Nada disso constrangeu o vereador, nem mesmo o fato de ter acabado de passar pela Câmara a votação de um projeto de criou a Procuradoria da Mulher, que vai apurar todo tipo de violência e assédio contra as mulheres.

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O que ocorreu com a vereadora Carla Ayres acontece com mulheres em todo o Brasil, em todo o mundo, todos os dias. Não há uma só mulher que não tenha se sentido constrangida por toques inapropriados, comentários maliciosos ou olhares lascivos. São “suco de machismo”: avanços de sinal socialmente aceitos. Mas isso precisa mudar.

Carla confirmou que pretende levar o caso à Justiça e também vai cobrar que haja consequências na Câmara. No caso da parlamentar, além de assédio se trata de violência política contra uma mulher. É fundamental que situações como essa venham à tona porque elas têm efeito pedagógico. Não se relativiza assédio. Os corpos das mulheres não estão à disposição de ninguém.

Carla Ayres fala sobre assédio na Câmara de Vereadores de Florianópolis