Luiz Henrique Mandetta é o mais recente alvo da ira de Jair Bolsonaro. O ministro da Saúde, responsável por gerir o enfrentamento do coronavírus no Brasil, já foi criticado publicamente pelo presidente da República, teve suas recomendações contrariadas, e foi obrigado a dividir o protagonismo dos boletins diários de informação à imprensa com outros ministros.
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Não é a primeira vez que Bolsonaro escolhe um membro do próprio governo como inimigo – as razões por que pratica de forma tão explícita e pública o fogo amigo são caso para a psicologia. Mas o fato é que, desta vez, a escolha pode ter um alto custo político.
A pesquisa divulgada nesta sexta-feira (3) pelo instituto Datafolha, sobre a gestão de crise na pandemia de coronavírus, mostra que as ações do Ministério da Saúde têm 76% de aprovação. Na primeira avaliação, divulgada em 23 de março, o índice era de 55%. Entre uma e outra coleta de dados se passaram 11 dias. O que significa que a aprovação subiu 21 pontos percentuais em menos de duas semanas.
Enquanto isso, a avaliação de Jair Bolsonaro passou de 35% para 33%. A reprovação, de 33% para 39%.
Para enfrentar a pandemia, o presidente apostou na retórica econômica – mas de forma irresponsável. Estimula a retomada a qualquer custo. Desdenha dos dados científicos e das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Chamou de “gripezinha” e “resfriadinho” um vírus de alta transmissão, que já contabiliza mais de 1 milhão de infectados em todo o mundo, e que já matou mais de 300 brasileiros.
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Em um artigo publicado nesta sexta, Igor Gielow, repórter especial da Folha de S. Paulo, ressalta que a inépcia de Bolsonaro é tamanha, que até erros graves do Ministério da Saúde acabaram minimizados na comparação. O ministério não conseguiu, por exemplo, unificar parâmetros para a notificação dos casos de coronavírus – o que torna nossas estatísticas imprecisas.
Ainda assim, a pasta comandada por Mandetta virou repositório dos argumentos científicos contra a falta de civilidade de Bolsonaro. Em uma emergência mundial, que ameaça empregos, salários, e sobretudo a vida, a maioria dos brasileiros optou por acreditar na ciência.
Enquanto segue na contramão do mundo, Bolsonaro vê sua aprovação cada vez mais limitada à ala radical de seu eleitorado, e é alçado ao posto de piada mundial pela maneira como conduz a crise. Eleger como inimigo seu próprio ministro da Saúde pode agravar o isolamento do presidente e lhe custar o mandato. De fato, se não de direito.
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