Há alguns dias uma amiga, que sabe o quanto eu gosto de bichos, me enviou uma dessas mensagens de WhatsApp que dizia mais ou menos assim: Deus colocou o “amai-vos uns aos outros” entre os 10 mandamentos, mas só o cachorro, entre todas as criaturas, compreendeu o que Ele queria dizer. Lembrei dessa postagem neste fim de semana, ao acompanhar o drama das buscas pelo labrador Barney, e seu resgate neste domingo (05).
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Um cão de trabalho é um serzinho especial. Quantas pessoas, entre as que você conhece, doariam a vida pelo outro sem esperar nada em troca?
Cachorros como Barney são escolhidos a dedo em suas ninhadas, e treinados para desempenharem funções difíceis. Correm, nadam, farejam. Sem exigir nada em troca além de um bom afago.
O trabalho de repórter permitiu que eu acompanhasse um dos ex-parceiros de trabalho de Barney, Ice – o primeiro cão guarda-vidas do país, hoje aposentado – em Itajaí. Vi de perto a relação de amizade com seu “binômio”, como é chamada a dupla de trabalho entre um cão e um ser humano, e a dedicação com que sempre exerceu suas funções. Os petiscos eram bem-vindos, é claro. Mas a satisfação vinha mesmo da atenção do parceiro.
Cães são assim. Por três anos, participei do programa de famílias socializadoras do Instituto Federal Catarinense (IFC), em Camboriú, para formação de cães-guia. Recebemos brincalhonas bolinhas de pelo que, quando adultas, podem se tornar os olhos de alguém, se tiverem condições físicas e comportamentais para isso.
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Nesse período, vi de perto inúmeras entregas de cães para deficientes visuais e acompanhei o processo de adaptação. É emocionante vê-los, depois de prontos, atravessar uma avenida movimentada em segurança, garantindo que o deficiente visual esteja bem. Sem pedir nada em troca.
Uma de minhas cachorras, Bel, me proporcionou outra maravilhosa experiência ao participar do programa de pet terapia da Univali, em Itajaí. Com ela, visitamos idosos e participamos do tratamento de crianças junto com psicólogos. Bel tem um problema na coluna que a faz sentir muita dor, o que a afastou do trabalho. Mas, enquanto pode, ela foi paciente e obediente em todas as sessões. Quem mais poderia entregar-se assim?
É belíssima a maneira com que esses amigos de quatro patas se doam às tarefas que desempenham. E o fazem por amor, satisfeitos com um olhar ou uma palavra de aprovação.
Para eles, não importa quem está do outro lado para ser ajudado. Se colecionou erros ou acertos ao longo da vida, se traz mais ou menos dinheiro no bolso, beleza ou juventude. É por isso que a perda de um cão como Barney nos comove e nos entristece tanto. O pequeno herói que se foi é um símbolo da lealdade e da entrega que faz falta em nós.