Dois movimentos distintos marcaram a reforma de Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (29), que contou com seis trocas de ministros. O Centrão ocupou espaços com um ‘arrastão’ no Palácio do Planalto, que incluiu a derrubada de peças que tornavam incômodo o alinhamento ao presidente da República. Bolsonaro, por sua vez, cedeu – mas sinaliza que está disposto a investir na radicalização.

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Na ala ideológica, caiu Ernesto Araújo, o ministro das Relações Exteriores que orgulhosamente fez do Brasil um pária internacional. Ficará marcado pela gestão inspirada em teorias conspiracionistas e coordenada informalmente pelo filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro, e pelo assessor presidencial Filipe Martins.

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A cabeça do ministro estava a prêmio desde que os equívocos do governo na condução da pandemia – entre eles a falta de articulação internacional para compra de vacinas – viraram um carimbo indesejável para os parlamentares do Centrão, que abraçaram o presidente da República ao longo dos últimos meses. 

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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, já havia sinalizado a Bolsonaro sobre o descontentamento com a condução da pandemia e o desempenho do chanceler. A situação se tornou insustentável depois que Araújo atacou a senadora Kátia Abreu (PP) nas redes sociais, no último domingo.

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Toma-lá dá-cá

O avanço do Centrão não se limitou ao chanceler nesta segunda-feira. Um dos movimentos significativos foi a chegada da deputada federal Flávia Arruda (PL) para assumir a Secretaria de Governo, substituindo o general Braga Netto. 

O fato é que o casamento de Bolsonaro com os partidos fisiológicos demandava seus ‘dotes’. Uma entrega de cargos que o presidente prometeu não fazer quando se elegeu em 2018. Poderia ser estelionato eleitoral, não tivesse o próprio Bolsonaro integrado esse grupo durante boa parte de sua vida pública.

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Político com três décadas de carreira, o presidente sabe que um governo enfraquecido pela crise é um parceiro preferencial para o Centrão. Cede, porque entende que não tem escolha. Mas os movimentos desta segunda-feira apontam que não o fará sem resistência.

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O indicativo está na troca de cadeiras no Ministério da Defesa, com a demissão de Fernando Azevedo e Silva, considerado um militar moderado, para entrada de Braga Netto. A mudança deve resultar na substituição do general Edson Pujol no comando do Exército. 

A intenção de Bolsonaro é buscar um comandante mais alinhado ao governo para, na prática, instrumentalizar as Forças Armadas. O presidente da República sonha com um Exército subserviente e disposto a descolar-se do papel constitucional de instituição de Estado. 

Bolsonaro entende que o agravamento da pandemia afeta sua popularidade e pode atrapalhar o projeto de reeleição. Acuado, dá pistas de que flerta com a escalada autoritária.

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