O debate da CBN Floripa foi o primeiro embate entre os candidatos ao Governo do Estado com a campanha já em curso. Se nas semanas anteriores foi possível treinar e afinar o discurso, não há mais espaço para testar – e o peso apareceu. As falas começaram mais contidas, e demoraram a “apimentar” – uma consequência, também, do grande número de candidatos.
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O principal alvo é o governador Carlos Moisés (Republicanos), que usa como estratégia jogar perguntas para falar da própria gestão. É natural que os adversários mirem especialmente em quem tenta a reeleição. Mas a sensação é que o governador permaneceu na zona de conforto, sem arriscar maiores provocações com os adversários. A estratégia funciona para evitar saias-justas, mas deixa o governador com o discurso mais morno.
Gean Loureiro (União Brasil)usa tática semelhante, e apostou em temas como educação e pessoas com deficiência para falar de ações da prefeitura de Florianópolis. Teve dois momentos mais tensos. O primeiro, quando foi criticado por Jorge Boeira (PDT) por não ter concluído o mandato como prefeito. O segundo, em um bate-boca com Odair Tramontim (Novo).
O candidato do Novo usa a tática da antipolítica. Havia elegido Décio Lima (PT) como alvo preferencial nos debates anteriores. Desta vez, mirou especialmente em Gean e subiu demais o tom ao falar das práticas da política tradicional nas campanhas eleitorais, como a contratação de pessoas para balançar bandeiras nas ruas. Perdeu oportunidade de aproveitar um tema que lhe é caro, como o fundão eleitoral.
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Décio Lima (PT) procurou nacionalizar o debate – uma estratégia que usará amplamente durante a campanha. Trouxe os números do governo Lula “para jogo” e fez comparações com o governo Bolsonaro. É a estratégia para conquistar o eleitor que votará no ex-presidente, mas ainda não decidiu o voto no Estado. Nessa raia, Décio está sozinho e “nada de braçada”, mas corre o risco de cansar o eleitor ao insistir na nacionalização.
Quem também nacionaliza p debate é Jorginho Mello (PL), que não perdeu oportunidade de falar do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de políticas como a redução de ICMS dos combustíveis. Jorginho também mirou fortemente em Moisés, quer se colocar como oposição ao governador – embora dispute com outros candidatos a raia bolsonarista.
Mais experiente entre os debatedores, Esperidião Amin (PP) conseguiu espaço para colocar a bagagem no debate. Incitado a falar de Bolsonaro, posicionou-se como um “bolsonarista light” – o que mostra que procura “colar” na política nacional, mas não será sua aposta exclusiva. Amin e Gean protagonizaram um dos momentos de debate que mais repercutiram nas redes sociais: o senador criticou a gestão da pandemia em Florianópolis, e Gean disse que foi a maneira como lidou com a Covid-19 que o reelegeu no primeiro turno em 2020.
Foi a única vez que a pandemia, um dos grandes assuntos destas eleições, apareceu no debate.
Voltando a Amin, o senador conta com uma curiosa dobradinha com Jorge Boeira (PDT). Ex-companheiros de partido – Boeira estava no Progressistas antes de migrar para o PDT – os dois parecem jogar uma partida de pingue-pongue ao invés de debater. Boeira joga a bola, Amin rebate, em uma dinâmica estranha para concorrentes que estrão em espectros diferentes do ponto de vista ideológico.
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Entre os oito candidatos, Ralf Zimmer (PROS) assume o papel de franco atirador, com Moisés como alvo preferencial – mas com alguma munição para Tramontim. É o responsável por apimentar o debate com provocações.
A esta altura, está claro que há estratégias para todos os gostos. Serão 40 dias para convencer o eleitor.