Abalos à democracia, como o que se viu esta semana nos Estados Unidos, não são construídos do dia para a noite. O presidente Donald Trump solidificou ao longo dos últimos anos as bases para o atentado ao Parlamento, que deixou perplexo o mundo. Foram longos anos de polarização e mentiras, que minaram a confiança de uma parte do eleitorado nas instituições democráticas.
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A tentativa de ruptura, calcada na crença sem fundamentos de uma fraude eleitoral, ocorre em uma nação que sempre se orgulhou de seus valores democráticos. E esse é um sinal de alerta que não se deve desprezar.
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O desmantelamento da democracia, num processo de corrosão que ocorre de dentro para fora, foi assunto muito bem tratado por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, dois professores de ciência política em Harvard, em “Como as Democracias Morrem”. A obra buscou explicar o fenômeno da eleição de Trump, e é uma das leituras fundamentais da última década.
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Os pesquisadores analisaram como os autocratas minam as instituições aos poucos e deslegitimam seus oponentes, numa agressão violenta contra um dos valores mais caros à democracia, que é a pluralidade de ideias. Esse processo inclui a erosão da política, a demonização dos adversários e os ataques ao Judiciário e à imprensa. As cenas tristes, protagonizadas pelos radicais apoiadores de Trump no Capitólio, são o ápice desse movimento em solo norte-americano.
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A tentativa de autogolpe cobrará um preço alto de uma das nações mais poderosas do planeta. Especialistas em política internacional indicam que o protagonismo externo dos EUA deve minguar no governo de Joe Biden, que terá como missão cicatrizar as feridas internas na democracia do país. O trabalho será longo, penoso, e precisa incluir penalização de Donald Trump, para que se torne exemplo contra outros arroubos autocráticos ao redor do mundo.
Levitsky, um dos autores de “Como as Democracias Morrem”, disse em entrevista à BBC que o que o autogolpe só não vingou nos EUA porque o presidente não tinha apoio das forças armadas. Esse é um importante sinal para a democracia brasileira, comandada por um fã de Trump que tornou o governo uma filial da caserna, já brincou de insuflar seus apoiadores contra o Supremo e o Congresso Nacional e não cansa de repetir – sem provas – que há fraudes no sistema eleitoral.
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Se nos Estados Unidos, onde os pesos e contrapesos das instituições democráticas são orgulho nacional, um autocrata foi capaz de causar tamanho estrago, imagine o cenário que o mesmo discurso é capaz de provocar no Brasil. É preciso que as nossas instituições estejam firmes e atentas ao cenário que pode se desenhar em 2022. Para combater extremismos, não bastarão as já tradicionais notas de repúdio.
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