Garrafas de vinho e cerveja desapareceram de uma conhecida rede de supermercados de Santa Catarina que vendeu bebidas pela metade do preço durante a Black Friday, poucos dias atrás. O desconto provocou filas enormes nas lojas e até exemplares caríssimos, daqueles que custam mais de um salário mínimo, sumiram das prateleiras.
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Para quem frequenta as filas de compras na Black Friday, talvez seja difícil visualizar que uma outra parte da população tem se alimentado com ossos de boi. Em outubro, o Procon de SC proibiu os açougues de vender restos que, em tempos de fartura, seriam descartados – mas que, em tempos de miséria, ganharam valor comercial. A fome voltou.
Na última sexta-feira, o IBGE divulgou dados sobre o avanço da pobreza no Brasil. Santa Catarina tem índices relativamente melhores em comparação com outros estados, mas teve um aumento importante na quantidade de pessoas que vivem em condições precárias.
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Cerca de três milhões de catarinenses recebem até um salário mínimo por mês – dinheiro que tem sido corroído pela inflação, que atinge especialmente o custo dos alimentos. Entre eles, pouco mais de 615 mil pessoas abaixo da linha da pobreza, o que equivale a mais do que toda a população de Joinville, a maior e mais populosa cidade do Estado. São 43 mil catarinenses nessa condição a mais do que em 2019. O IBGE considera como abaixo da linha da pobreza quem tem à disposição até R$ 450 por mês, um parâmetro estabelecido pelo Banco Mundial.
Outros 137,5 mil catarinenses vivem abaixo da linha da extrema pobreza, ou seja, com R$ 155 por mês. É quase o equivalente à população de Balneário Camboriú. Desde 2019, mais 10 mil catarinenses entraram nessa estatística degradante.
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Os números são vergonhosos e inadmissíveis para um Estado cuja economia cresceu ao longo dos últimos meses, apesar da pandemia e da crise, que registra recorde de arrecadação e segundo o Governo do Estado vive o pleno emprego. Essa disparidade de indicadores faz com que, muitas vezes, quem frequenta as filas da Black Friday não acredite que para alguns catarinenses a realidade esteja, de fato, muito ruim. É um retrato de dois Brasis que não se encontram, um sintoma da desigualdade histórica e profunda.
Comecei esta coluna falando dessas diferenças porque o combate à desigualdade precisa que essas realidades opostas se conheçam e se reconheçam, para que cobrem o avanço de políticas públicas que beneficiem a todos. O risco de vivermos fechados em nossas bolhas sociais é deixarmos de enxergar que, para promover justiça social, é necessário que a fila do vinho também se importe.
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