Os vereadores e a prefeitura de Blumenau prestaram um desserviço à democracia ao realizar uma sessão surpresa na qual aprovaram um projeto de lei cuja votação seria apenas no próximo ano. A manobra fere de morte a credibilidade dos envolvidos. Qual a razão para acreditar no que eles digam nos próximos dois anos, diante de tamanha dissimulação.

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Há tanto tempo no jornalismo, não lembro de situação parecida na história política local, excetuando-se rocambolescas digressões quase folclóricas perto do que se viu desta vez. Não me refiro aos votos em si, eles são parte do jogo do poder, mas questiono a maneira como a matéria entrou em votação. Tanto quem votou a favor, como quem se posicionou de modo contrário tem responsabilidade. Por que os vereadores que votariam contra não se retiraram de plenário? Por que não suspenderam a sessão? Para que servem, afinal, tantos subterfúgios legais do regimento interno? Ou os dissidentes são ingênuos, ou cúmplices da decisão.

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Blumenau não merece uma representação que atue desse modo, sorrateira, oblíqua, em completa falta de sintonia com os valores democráticos, como é o princípio da publicidade e da transparência nos atos da administração pública, para citar apenas um. Desta vez os interessados se mancomunaram para retirar direitos dos professores. Sabe-se lá o que podem fazer amanhã para aprovar o que mais lhes passe pela cabeça.

Agindo de maneira tão condenável, os políticos demonstram que não entenderam nada do que aconteceu nas recentes eleições, quando velhas raposas levaram uma surra nas urnas, inclusive aqui em Santa Catarina, onde um novato desbancou os favoritos ao governo do Estado e outro recém-chegado foi o candidato mais votado para a Assembleia Legislativa. Na ocasião, o eleitor preferiu a aposta na possibilidade, ao invés da certeza representada pelas receitas que não funcionam mais.

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O prefeito e os atuais vereadores de Blumenau podem ser os próximos a perder os respectivos mandatos, em 2020. Pelo que fizeram no começo da semana, correm o risco de que a população lhes dirija um sonoro qué se vayan todos daqui a dois anos.