Dizem que o Brasil é o país do mimimi, do chororô, do nhenheném. Estamos em estágio pior. Vivemos no país da comiseração. Lamentamos tudo. Temos peninha de tudo. Reclamamos de tudo. O copo está sempre vazio. Vivemos a Era do Vitimismo e do Coitadismo.
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O caso mais recente é o da derrota da seleção brasileira feminina na Copa do Mundo da França. Caímos para o time da casa. Futebol é apenas um jogo. Alguém ganha, alguém perde, ponto final. Mas as lamúrias vêm às pencas: “Ah, elas se esforçaram tanto…”; “Ah, nossas meninas não mereciam isso…”; “Ah, tadinhas, o que vai ser delas agora…”.
A narrativa é (quase) sempre a das lamentações. A sensação (quase) eterna é a de que somos um povo que não quer crescer e amadurecer. Prefere se imolar e vitimizar.
Voltemos no tempo. Em 1999 Fernanda Montenegro foi a Hollywood concorrer ao Oscar de melhor atriz pelo filme “Central do Brasil”. Fato histórico. Perdeu para a colega americana Gwyneth Paltrow. A gritaria foi ruidosa: “Roubaram o nosso Oscar!”. Vinte anos passaram, Fernanda segue uma mulher grandiosa e uma atriz respeitada em todo o mundo.
Podemos passar os dias chorando injustiças. Elas estão por toda parte, esbarramos com elas nas esquinas. Muitas vezes são absurdas, como o exemplo a seguir. “Olhos que condenam”, série da Netflix, mostra as injustiças que foram cometidas contra cinco rapazes negros do Harlem, sob a falsa acusação de estupro no Central Park, Nova York, em 1989. Eles lutaram e sobreviveram às barbáries da Justiça americana.
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Esta semana recebemos, na NSC, Karla Garcia Luiz. Psicóloga, ela nos deu uma injeção de coragem e humor. Direta, nos explicou o que é o capacitismo (o preconceito contra as pessoas com deficiência). Com leveza e sinceridade, disse que nós, jornalistas, somos despreparados, falamos e escrevemos muitas bobagens sobre o tema. Ela está certa.
Um pouco envergonhado e muito emocionado, disse a Karla que jamais havia entrevistado uma pessoa com deficiência e, ainda hoje, não saberia como fazê-lo. “Como faço isso?”, perguntei.
“Faça da forma mais natural”, ela respondeu com brilho nos olhos.
Uma lição de vida em apenas uma frase. É a resiliência derrubando a autoindulgência, os preconceitos e a desumanização.
Vertigem
“Democracia em vertigem” está na moda. O documentário de Petra Costa é primário, esquemático, mas junta os fatos políticos recentes e ajuda a compreender (se é que isso seja possível) o Brasil de agora. Por isso merece ser visto.
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Curiosidade e incertezas
O sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, de 97 anos, esteve no Brasil recentemente. São deles as pérolas abaixo:
1 “Há um demônio em mim, uma força no meu interior de intensa curiosidade”.
2 “Digo sempre que a vida é uma navegação num oceano de incertezas passando por arquipélagos de certezas”.
3 “Um mundo que não seja totalmente dominado pelo poder econômico e que seja mais fraterno – é preciso ainda ter utopias”.