Sonhava ser jogador de futebol. Mas era um moleque magricela, desengonçado, pouco habilidoso.
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Sonhava ser Elias Figueroa, Hugo de León, Franco Baresi, Luisão Pereira. Mas sempre estive mais perto do Abelão (que, a genética explica, é meu primo).
Por conta disso me agarrei ao Jornalismo.
No mundo de futebol discutimos ética, legado, exemplos para jovens e crianças. Temos poderosas referências de craques, como o alemão Franz Beckenbauer e o holandês Johan Cruyff. Outras nem tanto, como Diego Maradona e Mané Garrincha. E hoje temos Neymar. Poucas vezes vi um ser humano cativar tanto amor e ódio ao mesmo tempo.
Ele é fruto muito imperfeito dos novos tempos. Neymar e seus amigos vivem às turras com detratores nas redes sociais, em que o jogador tem milhões de seguidores. É adorado por seu estilo de jogo ofensivo, extrovertido, vistoso. E execrado devido à falta de educação e ao caráter hollywoodiano dentro de campo.
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Mesmo vítima (quando um mexicano o agride com um pisão), Neymar vira o vilão, por conta de sua exagerada expressão corporal. Já sobre a vida pessoal de Neymar, zero interesse. O que ele faz, com quem namora, se gosta de pagode ou rock, filmes de terror ou romântico, se usa roupas de grife ou não, tudo isso é problema dele.
Odeio polarizações – o sim ou o não, o bem ou o mal, o feio ou o bonito. Maniqueísmos são simplistas, reducionistas. Mas, nesse fla-flu de emoções, preciso realizar se gosto ou desgosto de Neymar – interrogação que está na pauta de todos os brasileiros.
Enquanto o tempo fornece elementos para desfazer a dúvida, sigo a estrada de mãos dadas com Albert Camus. Escritor francês de origem argelina, vencedor do Nobel da Literatura de 1957. Goleiro de um pequeno time de Argel, Camus escreveu: “Tudo o que sei sobre moral e as obrigações de um homem devo ao tempo em que joguei futebol”.
Neste domingo, completamos quatro anos do 7 a 1 – placar-clichê para adjetivar nossas mazelas.
Quatro anos depois mostramos alguns sinais de evolução no campo. Na vida real, continuamos levando o 7 a 1 de cada dia. Com tanta corrupção, a vergonha no gramado não foi nada.
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Já os estragos administrativos, financeiros, sociais e éticos, esses talvez levem décadas para a reparação.
De Nelson Rodrigues, para refletir: “O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Nossa tragédia é que não temos o mínimo de autoestima”.