Posso dizer, com orgulho, que trabalhei em várias eleições. Muitas delas enormemente importantes, no Brasil e fora daqui. Por exemplo, a cobertura das eleições de 1989, aquela em que Collor e Lula sobreviveram para o acirrado segundo turno.
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Não foi nada fácil, assim como também foi dureza a disputa entre o democrata negro Barack Obama e o republicano veterano de guerra John McCain, em 2008, nos Estados Unidos. Mas nada se compara às eleições que vivemos agora em nosso país.
Nunca vi tanto ódio, menosprezo e hostilidade pela opção do outro, tanto jogo sujo, desprezo pelos valores democráticos. Nunca vi tanta gente de bem – filhos, pais, amigos, irmãos, casais – tomada pela animosidade, pela raiva. Ninguém sairá ileso desse faroeste tupiniquim, dessa incomensurável confusão.
Pelas redes (antissociais) – principalmente pelo WhatsApp – vi velhas amizades se dissipando, namorados se separando, irmãos se ofendendo. Vi xingamentos, promessas de agressões físicas e, simplesmente inacreditável, até de morte. O horror, o horror.
“Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos”, escreveu o filósofo da internet Jaron Lanier. As redes gratuitas cobram muito caro, manipulam e mudam nossos comportamentos, acrescenta Lanier, pioneiro da realidade virtual.
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Perfeito, é o que vem acontecendo de forma nua e crua por aqui. As redes sociais estão nos tornando uns idiotas, ignorantes do terceiro milênio. Vivemos a “imbecilização da sociedade”, como diz Caetano Veloso.
Para manter integridade e preceitos éticos, não preciso justificar em quem votarei. Muito menos tentar subjugar, reprimir ou dominar o outro que votará em candidaturas diferentes. Meus valores são inegociáveis, não dependem da força.
Em tempos de cólera, o recolhimento e o silêncio tornaram-se produtos de inestimável valia. E assim chegamos à reta final das eleições 2018. Neste domingo vamos às urnas decidir quem será o nosso presidente e quem será o governador de Santa Catarina. Que tenhamos paz nas ruas. Que os eleitores exerçam o poder do voto com cidadania e sabedoria. Que os políticos, os vencedores e os vencidos, respeitem os princípios básicos da democracia, reconquistada nos anos 80 do século passado. Que respeitem os Poderes, as instituições, a Constituição, os adversários e partidos rivais.
Que respeitem, sobretudo, as dores e os sonhos dos seres humanos que habitam este conturbado país.
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Para mostrar por que a democracia americana é tão poderosa, apesar dos históricos solavancos, seguem pequenas pérolas de dois personagens fundamentais:
Thomas Jefferson, terceiro presidente e o principal autor da declaração da Independência dos Estados Unidos: “Quando estiver zangado, conte até 10 antes de falar; se estiver muito zangado, conte até cem.”
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Abraham Lincoln, presidente que liderou o país na sangrenta Guerra Civil, manteve a União e acabou com a escravidão: “Aqueles que negam liberdade aos outros não a merecem para si mesmos.”
Definitivamente, nada é tão grande e forte por acaso.