Thiago dos Santos Conceição é negro, pobre, 31 anos, único dos quatro irmãos que se formou na universidade. Desde os 10 anos dizia à mãe que queria ser professor. Conseguiu. Thiago é um vitorioso que viveu, recentemente, um dia de agressão e humilhação, retrato da educação no Brasil.
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Thiago dava aula de Português numa escola de Rio das Ostras, cidade do Rio de Janeiro. Era dia de prova. Descontrolados, alunos tentaram agredi-lo, depredaram a escola, um chegou a comer a prova, outro dizia que ia matar o professor. Tudo filmado. As cenas são aterradoras, deprimentes.
Apesar de tudo, Thiago mantém vivo o sonho de menino: “Tenho orgulho de ser professor. Apesar de todas essas mazelas, amo meu ofício”.
Sensato, Thiago pinta o quadro perfeito do que vivemos: “Negligência da família com a escola, porque escola não funciona sozinha. Negligência do Estado, negligência das autoridades, porque não têm propostas para a educação”.
Equilibrado, Thiago vai além: “A escola está se tornando um depósito de crianças e adolescentes, e isso precisa ser mudado. E a mudança tem que começar agora. Hoje. Precisamos resistir”.
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Tomado por uma inexplicável resiliência, Thiago completa: “Vale a pena investir na educação, porque ela transforma. É isso em que acredito, é isso que eu entendo como educação”.
Odeio saudosismo. Comprova a finitude, confirma que estamos ficando velhos. Mas às vezes é preciso olhar lá longe para tentar enxergar algo que pode estar bem perto. Estudei anos em escolas públicas. Numa delas cheguei a aprender a língua alemã. Eram outros tempos. Escolas públicas eram valorizadas. Professores, amados e admirados.
De lá para cá o aprendizado se deteriorou. Os indicadores de qualidade das escolas pioram ano a ano. O nível dos estudantes segue ladeira abaixo. As diferenças regionais são avassaladoras.
Não dá para esperar milagres. As raras iniciativas exitosas são obras de diretores e professores perseverantes, idealistas incansáveis. É preciso aprender com elas, valorizar, replicá-las.
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Está provado que o professor é o segredo das reformas mais bem-sucedidas de potências educacionais. Foi assim na Polônia, na Finlândia, na Coreia. Países com culturas diferentes, regimes políticos diferentes, eles decidiram investir na preparação dos professores para a sala de aula. Deu muito certo.
Chegaremos a esse nível um dia? Não, nunca. Mas sonhar é de graça. E, para nos fazer sonhar, precisamos de mais gente como o valente e obstinado professor Thiago dos Santos Conceição.
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Na última pesquisa contratada pela NSC, o Ibope perguntou aos catarinenses quais são as duas principais características para alguém que queira ser governador do Estado. Em primeiro lugar ficou “ser honesto”, com 60%. Depois vêm “ouvir o povo” (21%), “combater a corrupção” (20%) e “ser competente” (19%).
Ao exigir honestidade dos políticos, desenhamos um fiel autorretrato e fazemos uma bela autocrítica da nossa sociedade. Afinal, somos o país do jeitinho, o país da malandragem, o país de gente que quer levar vantagem em tudo, o país do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. É a nossa natureza. Somos o que somos. Nada é pequeno por acaso.
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