No sábado, dia 25 de março, em Tânger, o futebol brasileiro de tantos gênios viveu uma noite singular. Fomos coadjuvantes na efeméride montada para comemorar o quarto lugar de Marrocos na Copa do Catar. Levamos um time medíocre, levamos olé, perdemos o amistoso. Os marroquinos seguem em profundo e merecido êxtase. Nós fomos dormir com enormes dúvidas. Não nos reconhecemos mais, não sabemos o que somos, qual o sentido da vida? Somos um gigantesco ponto de interrogação.
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Comentaristas esportivos se apegam a bengalas como “bater na bochecha da bola”, “jogador agudo”, “marcação alta” e coisas assim. Gostam de falar, também, da suposta hierarquia futebolística representada por uma prateleira. Na estante mais alta estariam, hoje, a Argentina (campeã mundial) e a França (campeã em 2018 e vice em 2022). Inglaterra e até mesmo Marrocos estariam numa segunda prateleira. E nós, em que lugar estaríamos? Comentaristas gaguejam, passam a marcha, tergiversam, enrolam.
Pelo peso da camisa e da história, podemos estar em algum lugar de respeito. Graças aos campeões mundiais (Pelé, Garrincha, Zagallo, Didi, Nilton Santos, Jairzinho, Rivellino, Tostão, Gérson, Paulo César Caju, Romário, Bebeto, Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldinho Fenômeno). Graças a outros craques que não tiveram a mesma sorte (Ademir da Guia, Luis Pereira, Neto, Edmundo, Zico, Falcão, Roberto Dinamite, Júnior, Sócrates, Renato Gaúcho, Leandro).
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Os resultados mais recentes, a distância de nossa identidade, natureza e originalidade, nos enchem de perplexidade e incertezas. “Não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte”, disse outro gênio, Pablo Picasso. O que somos, o que seremos, para onde vamos? Ninguém sabe, ninguém viu. Estamos desesperançados. Vivemos de nostalgia e saudosismo.
Comentaristas afirmam que não teremos time para a próxima Copa, em 2026. Não custa sonhar com o milagre, o nascimento de mais um gênio. O atual não passou de um arremedo de craque. Valoriza mais a vida de subcelebridade, fez escolhas equivocadas, pôs o dinheiro acima de tudo, vive metido em polêmicas, passa meses machucado. Um desperdício – assim como foram jogados no lixo os últimos anos da seleção brasileira sob a batuta do verborrágico, messiânico e chato “Professor” Tite (agora, a seleção está órfã, nem técnico tem).
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Em Tânger, fomos para os marroquinos o que Panamá e Curaçao foram para os argentinos, na belíssima festa para Lionel Messi & Cia. Coadjuvantes. Voltaremos a ser protagonistas? O futuro não dura muito tempo. Está logo ali à frente. Precisamos renascer, nos redescobrir, reencontrar a nossa essência. Ou corremos o risco de não achar uma sórdida prateleira sequer.
Pra refletir:
“Leia poesia todos os dias de sua vida. Poesia é bom porque exercita músculos que não são utilizados sempre. Poesia expande os sentidos e os mantém em forma. Ela mantém você consciente de seu nariz, olho, ouvido, língua, mão. E, acima de tudo, a poesia é uma metáfora compacta ou um sorriso.”
Ray Bradbury, escritor americanoContinua depois da publicidade
“A distância entre ficção e não ficção é curta. Cruzo essa fronteira o tempo todo sem precisar de passaporte. Há quem pense que a biografia é mais científica do que o romance, mas eu discordo. Há tanta arte em uma biografia quanto em um romance”.
Julian Barnes, escritor britânico
“O esquecimento está cheio de memória.”
Mario Benedetti, escritor uruguaio
“Onde não existe humor, não existe humanidade. Onde não há humor, há um campo de concentração”
Eugène Ionesco, teatrólogo franco-romeno
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