Ganhou o Internacional, de meu primo Abel Braga? Venceu o Flamengo, time cheio de craques? Afinal, quem levou o Brasileirão? Escrevo esta coluna horas antes da rodada final de quinta-feira, dia 25. E devo dizer: é cada vez mais insuportável a forma como o VAR tem sido usado no Brasil.

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Raramente vemos um árbitro e/ou um bandeirinha com independência e soberania dentro do jogo. Tornaram-se figuras subjugadas. “Lá da cabine, em algum lugar do Planeta Terra, o VAR virá me salvar”, devem pensar. É o VAR-Bengala – espécime pesquisada e criada em laboratórios. E assim imperam a acomodação, a falta de coragem, a omissão, a preguiça.

A carapuça do VAR-Bengala cai bem no Brasil. Que o digam as autoridades municipais, estaduais e federais em suas campanhas de combate à Covid-19 e de vacinação. Desastrosas e vergonhosas.

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Fartamente estudada e explicada, a ideia original do VAR é muito promissora. Simplesmente tentar acabar com as injustiças causadas por eventuais erros – muitos completamente humanos, imperceptíveis. Um impedimento não identificado, uma agressão fora do lance, a bola que milimetricamente se perde por fora do campo, a força de uma falta. Mas isso não deveria tirar a autonomia dos árbitros. Tudo isso jamais poderia anular a interpretação de vossa excelência.

Falta bom senso para entender que o erro zero não é um objetivo possível, assim como a unificação absoluta de critérios será sempre inviável. Falta entender que o VAR deve ser usado como apoio ao árbitro – ninguém pode tomar as decisões por ele. Falta entender que o subjetivismo deve, muitas vezes, continuar a prevalecer. Falta também o entendimento de que o VAR nunca foi uma invenção de consenso. Por razões filosóficas e saudosistas, muitos garantem que está destruindo a graça e o charme do futebol.

Isso não acontece no futebol inglês, o mais rico e mais bem jogado em todo o mundo. Assim como hino nacional e minuto de silêncio, lá o árbitro e suas decisões são respeitados. Recorre-se ao VAR muito raramente, apenas para o que ele foi concebido: consertar e evitar um equívoco flagrado com a ajuda de uma das 532 câmeras.

Ninguém em campo reclama. Tudo é feito discretamente, rapidamente. E depois, aconteça o que acontecer, o jogo volta a ser jogado – com educação e respeito. O VAR na Grã-Bretanha é usado como deve ser: um suporte útil e importante.

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Humildade é a palavra certa para entender que o VAR está distante da perfeição. Ex-árbitros que agora comentam e cornetam os atuais árbitros provam isso. Aposentados, engenheiros de obras-prontas, muitas vezes eles também não chegam ao consenso sobre um lance e uma decisão. E estão sob o ar-condicionado de uma cabine, bem nutridos, longe dos 50 graus de uma decisiva contenda.

Aos amantes do futebol, ainda sofreremos muito com a espécime brasileira do VAR-Bengala. Ainda temos muito que aprender e entender. Mas que o nosso VAR é uma bagunça do tamanho desse país, isso é fato consumado.

Para refletir:

Do escritor Julián Fuks:

“Chorar com lágrimas, falar sobre as lágrimas que choramos, talvez seja uma forma de pedir clemência, de implorar por uma improvável piedade dos homens terríveis que nos cercam – e que por vezes também somos nós”.

Da ensaísta Eula Biss:

“Uma coisa que essa pandemia ilustrou é que, sem vacinação, seus direitos provavelmente vão ser ainda mais restritos. Você aumenta a sua própria liberdade com a vacinação”.

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Da escritora Jamaica Kincaid:

“O prazer para o observador, a testemunha, é uma corrente invisível entre os dois, o observado e o observador, o testemunhado e a testemunha, e creio que nenhuma vida esteja completa, seja realmente inteira, sem essa corrente invisível, que sob muitos aspectos é a definição do amor”.

Da jornalista Fabiana Moraes:

“Quando opinamos sobre algo, sobre o que é caro às pessoas, precisamos embasar melhor nossa fala. A pressa não pode mais servir de anteparo”.

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