Como diz aquele narrador, Copa do Mundo é um grande barato. Em tempos de redes sociais fica ainda mais divertido acompanhar os jogos e as reações por todo o mundo. As piadas surgem rapidamente, vêm de todos os cantos. A turma é brejeira, não perde uma chance. A bola sobra na cara do gol e, pimba na gorduchinha, lá vem o deboche (de bom ou mau gosto) – neste exato momento os alemães são as maiores vítimas.
Continua depois da publicidade
Adeus, Alemanha.
Outra coisa muito engraçada é a pachequice. Preste atenção naquele colega da firma que senta ao seu lado. Eternamente tímido e dedicado, se transforma. A seleção brasileira entra em campo, ele levanta e aplaude. Canta todo o hino nacional, com a mão no peito. Depois passa 90 minutos gritando, xingando até a mãe do árbitro de vídeo, a pobre mãe do VAR. Ao fim do jogo, extenuado e rouco, volta quieto ao posto de trabalho, onde permanecerá concentrado até o término do expediente, como se nada tivesse acontecido. Fique atento, há vários Pachecos perto de você.
Tempos de Copa trazem também os jargões, as frases feitas, as obviedades. E como também são divertidos. Vamos a alguns exemplos:
“Não tem mais bobos no futebol” é a desculpa esfarrapada para explicar que o time jogou mal e empatou ou perdeu para um adversário tecnicamente limitado. “No hay más tontos en el fútbol”. “There are no more fools in football”. É frase usada por jornalistas, jogadores, técnicos, torcedores, em todas as línguas.
“Correr atrás do prejuízo” é outra coisa intrigante demais. É usada para explicar que uma seleção está sendo derrotada e precisa mudar a história da partida. Mas espera aí, que sentido faz correr em busca do prejuízo? Não deveria ser o contrário? Muito misterioso, muito enigmático.
Continua depois da publicidade
“Futebol é uma roda gigante” serve para mostrar a gangorra que é o mundo da bola. Um dia você está em cima, outro dia você está embaixo. Um dia você ganha de 7 a 1, outro dia você perde para a Coreia do Sul e é eliminado. Simplesmente a vida como ela é.
E, para terminar, a frase que mais me instiga (e também irrita): dizer que uma seleção está “matematicamente classificada” para a próxima fase. Pelas barbas do profeta, a classificação só pode ser conquistada matematicamente. Ou será que estou errado e ela pode acontecer religiosamente, metafisicamente, romanticamente, geograficamente…?
Copa é, realmente, um grande barato. Lá na Rússia ou aqui, emociona ver tanta gente bonita, carregando alegremente as cores de seus países. É o futebol servindo para a união dos povos – me perdoem por mais esta frase feita.
Em tempos de Copa, uma reflexão do poeta tcheco Rainer Maria Rilke para quem não gosta de futebol: “Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas. Estar só, como a criança está só”.
Vai, Brasil!